terça-feira, 14 de outubro de 2008

a porta dos desesperados


Imagino que a maioria jovem no Brasil na faixa dos 20 anos questiona-se e se esforça para imaginar como será sua vida em 10 anos ou mais. Onde estará morando e com quem, se estará e com o que estará trabalhando e, claro, se estará ganhando dinheiro. Digo maioria (e não todos) para não generalizar demais. Infelizmente há os tantos que não tiveram oportunidade de se desenvolver durante a infância e, portanto, o fato de ter ou não um futuro e construir a própria personalidade, nesse caso, é indiferente.
Falarei, contudo, dos outros, no grupo o qual eu me incluo e tenho mais habilidade para discorrer. Disse também que são todos jovens brasileiros, pois imagino que um finlandês está "pouco se lixando" se estará ganhando muito dinheiro ou não. O colégio dos seus filhos, sua saúde, o acesso a praticamente tudo já está garantido, assim como em outros países de desenvolvimento invejável.


Não é a nossa realidade. Nosso país muda de cara o tempo todo. De país desacreditado no início dos anos 90 passamos a ser uma promessa mundial referente a diversos assuntos, agora no início do século 21. Diante desse cenário de incertezas é normal que nós, os adultos do amanhã, e aqueles tocarão o tal país, pensem e repensem no rumo em que suas vidas tomarão a partir de agora.
Há ainda os jovens brasileiros que, mesmo bem encaminhados, não gastam tempo preocupando-se com essas coisas. Especulo, pois, que estes jovens saibam que seja o que for que estiverem fazendo, estarão sãos, salvos e felizes. Os objetivos praticamente não são traçados em longo prazo e postam-se em uma atitude passiva diante da decisão das alternativas que a vida lhes oferece. Por isso que não ficam sonhando, imaginando-se e arquitetando planos de vida mentais.


Não se trata de uma crítica a essas pessoas. Elas realmente cumprirão seus objetivos de vida que muito embora desconheçam. Mas essa é sua natureza.
Não me incluo nesse grupo. Chego a sofrer de angústia quando vejo uma névoa em minha frente, em uma metáfora referente aos meus próximos anos. Começo então a exercitar minha mente para que ela reproduza um filme onde eu sou o protagonista, interpretando o papel de um homem bem-sucedido. Certamente muitos, como eu, também fazem a mesma coisa.

Ocorre que o mundo hoje apresenta um leque infinito de opções para os jovens escolherem qual delas será seu modelo de vida nos próximos anos. É como deparar-se com um imenso salão em que não se enxerga o fim e que tenha incontáveis portas para se entrar. Você deve entrar em alguma o mais rápido possível, pois parece que um bicho estranho o persegue. O que o persegue é o tempo. Cada vez mais as pessoas queixam-se da falta de tempo para tudo. A velocidade com que os bens criados pelos homens modificam-se é assustadora (lembre-se que há 10 anos você estava comprando seus primeiros CDs nas Lojas Americanas por R$12,90, enquanto que o blue-ray virá e morrerá sem que você perceba). Outro agravante é que existem certas portas dentre as que você deve entrar que se encontram em péssimo estado de conservação, o que indica que você não deve adentrá-las de maneira alguma. São as portas do teatro, das artes plásticas, da música, da literatura, da filosofia, da história, do vendedor de picolé na praia entre outras que significam fracasso, ao olhar de todos, por mais talento e vocação você possua. Trate de abortar o sonho que existe dentro de você e entre logo nas portas pomposas, decoradas e lustrosas da medicina, das engenharias (mas tem que estudar no exterior também), direito, do Big Brother, e de outras. Quando pensa ter-se aliviado ao fazer a escolha certa, uma decepção: você está em um salão igualmente infinito porém mais estreito. Ainda existem, mesmo que menos, portas mau-vistas como a porta do professor, ou a porta de emergência que significa "abandonar tudo e abrir um restaurante". Mais uma vez a angústia da incerteza o toma conta, pois você é jovem e tem muito o que aprender ainda, não possui experiência.

A historinha segue com mais e mais portas e escolhas infinitas após uma

primeira já escolhida. A respiração do bicho que o persegue é cada instante mais sensível. E se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

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