quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A crise financeira e minha opinião sobre ela

Finalmente arrumei um tempo para expor aqui, algumas reflexões sobre esse alarde que está acontecendo no mundo inteiro a respeito da famosa crise financeira. Bom, como sei que a maioria dos leitores deste blog são universitários e alegam que não têm tempo para lerem notícias ou qualquer outra desculpa do gênero (simplesmente não há interesse, por exemplo), farei um breve resumo do que realmente aconteceu, o que é meramente a decodificação da linguagem rebuscada que os entendidos usam na TV e nos jornais e que ninguém entende nada.
Tudo começou no ano passado, quando a gente, aqui no Brasil, ouvia falar, meio que sem ter idéia do que realmente se tratava da crise imobiliária nos Estados Unidos. Os Estados Unidos, historicamente adotaram uma política financeira de baixos juros. O que estava acontecendo era que até 2007, a coisa mais fácil naquele país era realizar "o sonho da casa própria". Para ricos e para pobres. Se você estivesse interessado em comprar uma mansão em qualquer lugar que fosse, bastava procurar uma construtora que ela iria lhe apresentar uma opção e, em parceria com algum banco financiador, você poderia dividir o investimento em parcelas que levariam a vida para pagar, e com juros baixos. Ótimo negócio! E mais: na maioria dos casos não havia a necessidade, como no Brasil, de colocar um "fiador" no negócio, nem consulta a SPC, SERASA, declaração de comprovante de renda, nada disso. Esses órgãos tipo SPC, acredito eu, nem existem por lá (por aqui, para quem não sabe são cadastros das pessoas inadimplentes, más pagadoras) e fiador, também para quem não sabe, pode ser um grande amigo seu, que assina um termo no contrato de que é ele quem vai se comprometer a arcar com as parcelas do financiamento que você, por algum motivo, não pagou. Tudo era muito fácil, todos poderiam comprar casas de todos os gostos e tamanhos.
Aqui entra um parênteses de observação, e que quem já viveu por um breve período nos Estados Unidos, como eu, pode confirmar: Pequenas compras no cartão de crédito/débito não é preciso assinar nem digitar senha, compras médias é somente preciso assinar, sem identidade. A única vez que me pediram o passaporte foi quando eu comprei o computador. Em restaurantes ou bares não há, como no Brasil, todo um esquema de comanda, ou seja lá o que for, para se prevenir dos espertinhos que possam querer sair sem pagar a conta. Lembro-me de brasileiros espantados com essa liberdade lá na América. Ou seja, tudo isso confirma o fato de que os negócios, sejam os pequenos ou grandes, eram feitos na base da confiança, partindo do pressuposto que tanto o comprador quanto o vendedor são honestos.
Voltando à crise imobiliária. O que ocorreu, porém, é que por algum motivo desconhecido o americano passou a ser um mau pagador. Isso mesmo: caloteiro. Existem muitas hipóteses para a mudança: desemprego crescente, mudança de cultura, sabe-se lá o que. O fato é que os compradores dessas casas de financiamento com parcelas a se perder de vista começaram a não pagar os bancos. E, sem fiador, sem alienação de bens (também requerido em financiamentos no Brasil), sem nenhuma garantia para que os bancos de financiamento pudessem recuperar de volta seu dinheiro emprestado para que o cidadão comprasse sua casa (o máximo que pôde ocorrer é que esse Banco pudesse retirar a casa do caloteiro, mas quem aqui vai ao banco sacar uma janela, ou uma dobradiça? Queremos é dinheiro vivo e o banco precisa dele para suas atividades), estes bancos começaram a entrar em crise, sem que isso fosse divulgado em um primeiro momento, afinal você deixaria seu dinheiro em um banco quebrado? Os bancos, sem dinheiro, começaram a captar empréstimos de outros bancos, na esperança de que, em breve, pudessem recuperar o dinheiro dos inadimplentes das casas, porém isso não aconteceu. Como a mentira tem perna curta, os pequenos bancos financiadores quebraram: sinal de alerta. De repente, em um efeito dominó, os grandes bancos (como aquele grande banco de Washington cujo nome eu esqueci agora) também entraram em colapso. Crise instalada.

Você deve estar se perguntando "mas o que isso tem a ver com a queda das bolsas de valores no mundo inteiro?". Aí é que está: Isso não tem como explicar. Imagine que você está em um grande show internacional, com uma multidão de mais de 100mil pessoas. De repente, bem no centro do povão, acontece algum estouro. Todos saem correndo, atordoados e você não sabe o que é, mas vai ficar parado e ser atropelado? Não. Este é o "efeito manada", presente em outros grupos de animais. Algo deu errado e as pessoas a sua volta estão correndo com cara de apavoro (e é provável que elas também não saibam do que se trata).
O pânico tomou conta das pessoas que têm dinheiro aplicado, ao redor do mundo, afinal de tanto falar em crise imobiliária, e ainda mais agora com os bancos falindo, há algo errado. De uma hora para outra, todos correram para retirar suas fortunas aplicadas, com a intenção de não perder algo que se imaginou que pudesse perder. Vendendo-se as ações e retirando-se o dinheiro aplicado em outros investimentos, imagine o que se obtém? A moeda mundial: Dólares, claro! Um investimento supostamente seguro. É por isso que, com tanta gente comprando dólares no mundo inteiro, faltou até aqui no Brasil, fazendo com que seu preço disparasse (se existem apenas 5 Mercedez iguais à sua no Brasil, com certeza ela custa muito dinheiro; mas se você possui um Uno Mille como milhões de outros pelo país, seu preço é baixo: lei da oferta e demanda). Prontamente, o Banco Central do Brasil queimou suas reservas de dólares ao fazer um leilão das mesmas, injetando mais de 2 bilhões de dólares na economia e controlando o seu preço. O mesmo aconteceu com o ouro, outra moeda bastante procurada no mundo inteiro, que também teve uma elevação no seu preço.
Com certeza esqueci-me de alguns detalhes, mas creio que nada que pudesse fazer perder o foco. Em resumo, foi isso o que aconteceu.
Isso o que eu escrevi, qualquer um é capaz de dizer em noticiários, escrever em jornais. É a análise crua dos fatos. Mas quando um apresentador na televisão faz a famosa pergunta "Esta crise pode ter efeitos no Brasil?" dirigida a um destes entendidos, ele se esquiva e não responde. E eu não agüento mais ver essa pergunta na imprensa!

Quero ter aqui a ousadia de fazer uma análise mais apurada desses acontecimentos e até mesmo previsões: Com certeza esse é um importante fato histórico que nossos filhos estudarão na escola.
A origem do caos, como se pôde perceber, parece ter tido sua origem na falta de regulamentação para empréstimos, nos Estados Unidos. Isso eles tratarão de mudar, assim como os incentivos ao “crédito infinito” e não vai demorar muito, pois a pancada foi forte.
O importante é lembrar que o efeito-manada não deixará de estar presente no emocional das pessoas, ainda mais em um (investidor) especulador que vive a ganhar dinheiro, com o dinheiro. Mesmo que se faça a regulamentação da questão do empréstimo e tudo o mais, estamos sujeitos à outra crise a qualquer momento, em decorrência de outra falha da economia americana que nós não conseguimos enxergar nos dias de hoje.

Aí é que eu me revolto com comentaristas de economia na televisão e com palestrantes que fazem a análise igual a que eu fiz, mas com linguagem mais difícil. Não se questiona pontos como estes: Será que o erro foi mesmo a falta de regulamentação e outros meros detalhes? Ou será que o próprio modelo de capital aberto contém grandes furos que deixam o mundo inteiro vulnerável às perdas de dinheiro da noite para o dia? Isso tudo, aliado com a tecnologia, proporcionou essa debandada de dinheiro, pois em apenas poucos segundos, é possível movimentar milhões e milhões de dólares pelo mundo. A brincadeira é a seguinte: Você tira de A e aplica em B, A quebra. Tira de B e aplica em C, B quebra e assim por diante. A Bolsa de Valores e o mercado financeiro, em geral, são um jogo, onde os especuladores ganham dinheiro com dinheiro e o erro é justamente este. O modelo neoliberal capitalista acabou nos provando de que ele não se sustenta.

Os grandes filósofos europeus do século 19 já previam: Dinheiro não pode gerar riqueza, apenas o que gera riqueza é o trabalho, a produção. E é verdade. Esse pessoal todo que entrou em pânico e retirou seus bilhões das bolsas de investimento, desvalorizando as empresas que lá possuíam ações e fazendo com que estas viessem a desvalorizar tanto, que daqui a um tempo, alguns outros picaretas as comprarão a troco de banana e as venderão depois pelo preço que elas realmente valem.

Os Estados Unidos, historicamente, sempre defenderam a não intromissão do governo na economia, com as teorias não-keynesianas. Podemos agora jogar fora todos os livros com este ensinamento: a prática acabou de nos provar que, se não fossem os pacotes macroeconômicos adotados em conjunto pelos governos dos países no mundo inteiro, não se sabem os rumos catastróficos que a bola-de-neve teria tomado. Os governos entraram, sim, como agentes controladores e reguladores da economia, inclusive injetando dinheiro. Quem é que paga, então, o pato por isso tudo? O povo, que deixa de ter investimentos em infra-estrutura para salvar as mega-dívidas dos banqueiros e as atividades das empresas desvalorizadas (no site da UOL, a manchete atual é “EUA devem adquirir US$250bi em ações de bancos”, as ações podres dos bancos desvalorizados).
Tenho convicção de duas coisas:
1) Essa crise vai desaparecer de maneira tão rápida como ela chegou. Assim funcionam as coisas hoje e devemos nos acostumar. Talvez a crise até tenha sido ocasionada justamente pela velocidade com que podemos “brincar” no mercado atualmente, como disse anteriormente. Com ações em conjunto com as principais economias do mundo, as decisões corretas serão tomadas e tudo voltará à normalidade muito em breve.
2) Nós, brasileiros, sentiremos muito pouco dessa crise. Isso mesmo. Os nossos ministros e o nosso presidente, sabiamente adotaram discursos cautelosos, pois sabem que tudo o que disserem pode influenciar para mais ou para menos. Melhor é ficar em cima do muro, mesmo, e garantir que, se a crise vier, estaremos preparados para ela. Há uma semana, mais ou menos, tivemos a maior queda das bolsas americanas, acarretada logo após um discurso do Bush. O país parou para vê-lo pronunciar algo construtivo, alguma simples palavra de que ele possuísse algum plano para resolver todo o problema. Mas ele não disse, ele não tinha plano algum e não falou nada. As pessoas, amedrontadas, em instantes retiraram mais dinheiro ainda e tudo caiu como nunca. Isso comprova que os nossos governantes devem ter a maior cautela do mundo com esse assunto e, de fato, estão tendo. Além do mais, a economia do Brasil possui uma estrutura adversa da americana. Por aqui, o governo cria pacotes econômicos, o nosso Banco Central faz parte do governo (mesmo com certa autonomia) e todo o resto, de um modo geral, está equilibrado, não há motivo para pânico.

Agora, o que eu não faço a menor idéia é de por quanto tempo esse modelo de especulação financeira continuará fazer parte das nossas vidas e ser tão enaltecido nos noticiários e informes econômicos. Precisará de outra crise como esta para que se abandone a idéia de tentar gerar lucros a partir de aplicações financeiras? Sinceramente, eu me sentiria um fracassado se chegasse à maturidade e percebido que em minha vida toda eu nada produzi, que toda a minha fortuna foi fruto do meu pensamento de tentar ser mais esperto que os outros investidores, como num jogo, sem perceber que de nada acrescentei para a humanidade.
Por isso eu quero é que os especuladores do capital mundial se explodam com essa crise.
Creio que adotamos o caminho errado há 200 anos e é certamente impossível revertê-lo abruptamente. Espero, entretanto, que novos modelos para a economia e o mercado financeiro venham a ser desenvolvidos, assim como uma maior importância para o desenvolvimento do conhecimento, para deixar de lado essa bobagem de gerar dinheiro, a partir do dinheiro.

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