quarta-feira, 19 de novembro de 2008

argumentos elitistas

Em um dos textos anteriores, falei rapidamente sobre quem pouco sabe a cerca de um assunto e insiste em colocá-lo, mesmo quando os ouvintes percebem que é tudo besteira. A personagem deste acontecimento até manifestou-se aqui no blog, mas entendeu que eu estivesse falando que ela não entendia nada sobre cotas.

Não, na verdade o papo em que eu percebi sua ignorância foi sobre ações do Governo Federal.

Olha, não quero parecer arrogante, já parecendo, mas deixo claro que não há problema algum em não saber nada sobre qualquer assunto. Eu nunca darei minha opinião sobre os jogos da NBA, pois não entendo absolutamente nada de basquete. De economia eu entendo quase zero. Mas tive dois semestres de aula com um dos melhores professores de Santa Catarina no assunto lá na faculdade de administração que eu curso (e o pessoal está lá de prova que o Tramontin é realmente muito bom). Então, no zero eu não fico.

Naquele dia foi dito que o Bolsa Família não serve pra nada, utilizou-se aquele velho discurso republicano de que não se deve "dar o peixe, mas ensinar a pescar". Traduzindo, não se deve dar dinheiro, se deve dar empregos. Faz sentido, aliás, são dois pontos de vista válidos e que compõe a principal divergência política em diversos países, inclusive nos Estados Unidos - Democratas x Republicanos. O Barack Obama, por sinal, é da turma dos que dão o peixe.

Olha que curioso. O Bolsa Escola foi magnificamente criado pelo governo FHC (idolatrado por quem criticou o Bolsa Família, do Lula, naquela ocasião). É um mecanismo comum da economia que se chama Transferência de Renda e que compõe o produto de uma economia, utilizado por governos em diversos países, até nos mais capitalistas.
Perceba a lógica do mesmo. Uma pessoa bem sucedida recebe seu salário e dele são descontados encargos destinados ao governo. Este arrecada e distribui para quem não tem o que comer. O erro está em pensar que o dinheiro pára neste estágio. Muito pelo contrário: a pessoa necessitada recebe o recurso e vai até a venda maís próxima. O comerciante arrecada o mesmo dinheiro e lucra mais, porque este é um novo cliente (ele não podia comer anteriormente, não é mesmo?) e paga seus impostos. E assim por diante. O que acontece é uma maior dinâmica da economia. A prova disto é que o Nordeste brasileiro nunca se desenvolveu tanto, é a região cujo comércio mais cresce, a economia finalmente foi aquecida naquele lugar - onde também possui o maior número de pessoas atendidas pelo Bolsa Família.

Argumentos desqualificando a índole do brasileiro, que concluem em uma ineficácia do programa, do tipo "ah, o que adianta dar dinheiro pros ignorantes irem lá gastar todo o dinheiro em cachaça?" também não me interessam, pois além de o caso ser minoria, é só o que faltava um governo cruzar os braços e não fazer mais nada, partindo do pressuposto que seu povo não irá utilizar o que está sendo oferecido. A parte do governo deve ser feita, não importando a resposta do povo.

Pode ser que em outros lugares, "ensinar a pescar" seja a melhor opção, ou seja, criar mais possibilidades e oportunidades para que os empreendedores criem lojas, fábricas, etc, para empregar mais pessoas, para que estas deixem de ser miseráveis. Em minha opinião isto não serve para o Brasil, dado que tem gente passando fome. PASSANDO FOME! Coisa que não é da minha e nem da sua realidade. Não consigo imaginar o que é querer comer e não poder, é a segunda atividade principal em um ser humano. A primeira é respirar.

Por isso, entendo que inicialmente, devemos matar a fome das pessoas e, de quebra, alavancando o comércio e o setor produtivo da cesta básica, tudo isso com o dinheiro que nós pagamos de impostos, para que o dinheiro retorne - e um dia retornará, caso o programa obtenha sucesso - para quem o desembolsou.

Gauchadas



Colocarei em seguida um texto que recebi via e-mail, daqueles supostamente escrito por alguém famoso. Em seguida, vai meu comentário.

DE ONDE VIRÁ O GRITO?- Arnaldo Jabor

Num texto anterior, introduzi o conceito de "Ressentimentos Passivos”. Para relembrar, lá vai um trecho: "Você também é mais um (ou uma) dos que preenchem seu tempo com ressentimentos passivos? Conhece gente assim? Pois é.O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo ressentimentos passivos.
Olham o escândalo na televisão e exclamam "que horror". Sabem do roubo do político e falam "que vergonha". Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam "que absurdo". Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e dizem "que baixaria".
Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram "que medo". E pronto! Pois acho que precisamos de uma transição "neste país". Do ressentimento passivo à participação ativa".
Pois recentemente estive em Porto Alegre , onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou. Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de todos, não é de ninguém.No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa. Abriram com o Hino do Rio Grande do Sul.
Fiquei curioso. Como seria o hino? Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra! TODOS! "Como a aurora precursora / do farol da divindade, / foi o vinte de setembro / o precursor da liberdade" . Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão. Com garrafa de água quente e tudo. E oferece aos que estão em volta. Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem. E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem. Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu, paulista, não estou acostumado. Desde que saí de Bauru, nos anos setenta, não sei mais o que é "comunidade". Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo. Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é...

Foi então que me deu um estalo. Sabe como é que os "ressentimentos passivos" se transformarão em participação ativa? De onde virá o grito de "basta" contra os escândalos, a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil? De São Paulo é que não será. Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em São Paulo. Os paulistas perderam a capacidade de mobilização. Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção. São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem cultura própria, sem "liga". Cada um por si e o todo que se dane. E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.
Penso que o grito - se vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa "liga". A mesma que eu vi em Porto Alegre. Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira. Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo.Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles. De minha parte, eu acrescentaria, ainda: “... Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda Terra..."

Arnaldo Jabor

Bom, primeiramente devo colocar que o texto acima provavelmente não foi escrito pelo Arnaldo Jabor, embora no início da leitura eu até pensei que fizesse bem o estilo dele de abordar as coisas - que não me agrada. Mas o Arnaldo, com aquele forte sotaque de carioca que possui, provavelmente nunca nem esteve em Bauru - que dirá ter nascido por lá.

O texto, entretanto, nos passa uma interessante e verdadeira mensagem. Ao contrário do que muitos que me conhecem possam pensar, sou isento para falar dos gaúchos. Nasci em Florianópolis (possuo imenso apreço por ser manézinho e orgulho do lugar onde nasci) e tenho familiares em diversos lugares do Brasil - inclusive no Rio Grande do Sul. A maioria da minha família é natural de Minas Gerais e lá vive, muitos moram no Estado de São Paulo, alguns no Rio e até na Bahia eu tenho parentes. Outros, como já disse, no Estado mais ao sul do Brasil.
Desde cedo tive contato direto com a cultura gaúcha, pois além de meu pai ser um, meu avô foi um dos personagens importantes para a cultura do Rio Grande do Sul, divulgando pelo Brasil nas décadas de 50 e 60 a figura do gauchão de bota, chapéu e bombacha, que toma chimarrão, fala grosso e tem pouca frescura - o que, inclusive, contribuiu para que isso virasse motivo para piadinhas a respeito da masculinidade do gaúcho.
Mas onde eu quero chegar diz respeito ao que o texto mais fez questão de enfatizar: o orgulho gaúcho.

A minha primeira experiência com o hino Riograndense foi na formatura de um primo meu, mais velho, que se formava em arquitetura pela UFRGS. Mesmo sendo bem mais novo do que sou atualmente, surpreendi-me ao ver que na execução do hino, toda a platéia, mais a mesa das pessoas importantes e os formandos cantavam a letra inteirinha com perceptível satisfação e orgulho ao cantar. As pessoas que pude constatar não estarem cantando eram justamente minha irmã, minha mãe e eu.
Posteriormente, em um dos jogos importantes do meu time do coração - o Internacional de Porto Alegre - antes do jogo começar, algum dirigente mexia com o brio da torcida e a convocava para incentivar o time desde o início. Para completar a empolagação da torcida, foi executado o hino Riograndense e, novamente, para minha surpresa, 56mil pessoas cantavam o hino em total concentração e exaltação, muito mais do que qualquer hino nacional que eu já tenha visto em estádio. Impressionante.
Depois me acostumei a identificar a melodia inicial desta música e saber do que se tratava, em qualquer evento importante que eu tenha ido, naquele Estado. O hino é, aliás, muito bonito e pode ser ouvido em http://www.mp3tube.net/musics/Ospa-Hino-Rio-Grandense/29760/

Agora, o por que desse orgulho todo, dessa vontade em demonstrar ser gaúcho (que nunca viu um carro com adesivo da bandeira do Rio Grande do Sul?), é que é mais difícil entender.
A história, como sempre nos auxilia muito. A formação do povo gaúcho e o desenvolvimento de sua cultura foi diferente de qualquer outra região do país. Já começaram com a ocupação espanhola, que proporcionou diversas características de hábitos e cultura. Foi, também, uma região envolvida em muitas guerras. Ao contrário do que muita gente pensa, não apenas por motivos separatistas, como a Farroupilha (a mais importante delas), Portugal e Espanha disputaram o Rio Grande do Sul por muito tempo, por exemplo. Mais tarde, a famosa disputa política entre os Maragatos e Chimangos. Aspectos que não existiram em outros cantos do Brasil.
Evidente que existem imensas diferenças entre as regiões do país entre culinária, sotaques, arte, costumes, etc. O que é tão diferente do Rio Grande do Sul, além de todos estes aspectos é o que o autor do texto (o falso Jabor) disse.
E digo mais. Não sou nenhum gaúcho exibido para estar falando isso, mas experimente pedir uma informação em Porto Alegre. Entre em uma lanchonete simples em Caxias do Sul ou em uma farmácia em Santa Maria. Sempre me surpreendo quando retorno àquele Estado com o tratamento das pessoas, sempre cordiais e prestativas. Claro que gente ruim ou mal-educada existe em qualquer lugar, até mesmo na Suiça, mas no geral, em comparação com o resto do Brasil, no Rio Grande do Sul é diferente.
Aprender o hino de Santa Catarina para mim seria, no mínimo, forçado. Ninguém por aqui - e em qualquer outro Estado mais ao norte que nós - vê seu Estado como uma nação, com identidade própria. O ruim é que nós não somos metade patriotas em relação ao Brasil, como os gaúchos são orgulhosos pelo seu Estado. Como diz no texto, a união que isso proporciona, a identidade bem definida só tem a contribuir com a nação, de um modo geral.