terça-feira, 29 de setembro de 2009

aos otimistas

Acredito que a maioria dos leitores deste blog sabe que é Henrique Meirelles. Se você não sabe, Henrique Meirelles é um simpático senhor de uns sessenta anos de idade, careca, que preside o Banco Central do Brasil. Era filiado ao PSDB, mas foi convidado pela equipe do governo Lula (quem o convidou foi o então Ministro da Fazenda, Palocci) para integrar a equipe da economia do governo, assumindo o BaCen. Uma ótima contratação, pois os números da economia e os grandes feitos do Banco Central desde 2003 são evidentes e os ganhos para o país são muitos.

Gosto muito de assistir entrevistas de Meirelles na televisão. A última foi agora no domingo passado, num destes programas de entrevista que passam depois do horário do Fantástico, em outros canais. Depois de comentar tudo o que sua equipe fez pela macroeconomia brasileira, explicar a adoção de medidas às vezes conservadoras, o papo adentrou aos assuntos gerais do Brasil, principalmente sua política externa.

Henrique Meirelles, que já foi presidente do Bank Boston nos Estados Unidos, relatou que em épocas não tão distantes em que ele viajava e residia fora do Brasil, os estrangeiros em geral sempre tiveram um carinho pelo nosso país. Somos carismáticos, simpáticos, divertidos, etc. E quando o assunto era negócios, investimentos e economia, a postura deles se mantinha: generosidade, simpatia e nada a mais. Não levavam o país a sério. O Brasil não era um país sério e, de fato, ainda não é para muitas pessoas. Mas ressaltou que de uns tempos para cá, a coisa mudou radicalmente. Os ministros da Fazenda, do Planejamento e o próprio Presidente do Banco Central do Brasil hoje em dia vão lá fora e são respeitadíssimos. Pessoas importantes ao redor do mundo querem saber o que nós temos a ensinar e não é pouca coisa.

Para não dizer que estou sendo imparcial e apaixonado pelo governo federal que aí está, enfatizo que muitas destas diretrizes econômicas foram adotadas no segundo Governo FHC, sabiamente mantidas e aperfeiçoadas pelo atual.

Dois fatos estão dando ainda mais credibilidade a nós neste instante.

Primeiro, o Brasil atingiu o "grau de investimento". Agências internacionais de rating em investimentos financeiros classificam a chance que um país tem de "dar um calote" quando há um dinheiro lá investido. A pior nota é D, tratando-se de um país cujos investimentos são tratados como totalmente especulativos – não há garantias de retorno. Em seguida C, CC, CCC-, CCC, CCC+, B-, B, B+, BB-, BB, BB+ (antiga situação brasileira). Os seguintes conceitos são os de grau de investimento, grupo o qual adentramos neste instante, naturalmente com o pior conceito entre eles, ainda: -BBB (nós!), BBB, BBB+, A-, A, A+, AA-, AA, AA+, AAA. Este último conceito não é concedido a países “somente” ricos, mas para os países incrivelmente estáveis, como os da Escandinávia (Dinamarca, Suécia, etc.).

O segundo fato é a nossa saída da crise (afinal nós entramos nela?). Os únicos setores brasileiros afetados pela crise mundial financeira foram justamente os de empresas que se relacionam diretamente com mercados externos afetados por ela. No nosso mercado interno, uma ligeira queda de produção e no emprego, mas tudo já está voltando ao normal, com um crescimento ainda mais consolidado, segundo disse o professor Henrique Meirelles no domingo.

Disse ele: "Saímos da crise. E saímos rapidamente e fortes."

Isto causa ainda mais interesse, curiosidade e germina o respeito das outras nações.

Para completar somos, pela primeira vez na história, credores do fundo internacional. Dívida externa é coisa do passado. Somos autoridades quando o assunto é dinheiro.

A postura das relações internacionais adotadas pelo atual governo foi de fundamental importância para que isso acontecesse. Soubemos explorar novos mercados e nos aliamos a quem é parecido conosco, os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China, todos muito grandes, populosos e em crescimento) e com quem está perto de nós, o Mercosul (importantíssimo aliado nosso).

Mas o brasileiro, curiosamente, vive transitando da euforia à depressão, talvez um reflexo das nossas diferenças grosseiras em tudo quanto é assunto. Tudo o que escrevi há pouco é rapidamente esquecido quando assistimos reportagens da nossa miséria e principalmente da violência cotidiana.

O Brasil tem uma oportunidade maravilhosa de sediar também as olimpíadas de 2016 em uma das cidades mais bonitas do mundo. Mas o brasileiro ainda não sabe se isso é bom ou se é ruim.

Se pensarmos no Rio de Janeiro hoje, realmente é de se preocupar. Não se pode pegar um vôo tarde da noite no aeroporto internacional em virtude do risco de se trafegar pela Linha Vermelha, via de acesso que passa por perigosas favelas. Turistas constantemente são assaltados, não há transporte de qualidade, entre outros fatores.

É bom, contudo, lembrar que nem todas as pessoas são más intencionadas, aliás, a grande maioria é do bem. Se o Rio for a cidade escolhida, temos oito anos pela frente de árduo trabalho de uma série de mudanças de infra-estrutura e principalmente de cultura da população. Os ganhos para o Brasil seriam excelentes: Investimento maciço no esporte, que é ferramenta indispensável e oportuna para a inclusão social; a possibilidade de oferecer melhores condições para os estrangeiros que viriam aqui deixar suas riquezas em um dos melhores negócios internacionais que existe, justamente o turismo; oportunidades de bons empregos e negócios para pessoas da minha idade, em breve no mercado de trabalho e a herança de uma estrutura urbana digna de Olimpíadas, a exemplo do que aconteceu em Athenas.

Em geral, sou bastante otimista. Para tudo em minha vida. Quando o assunto é o futuro do Brasil, sou mais ainda. Escrevi este texto para extravasar meu momento "super otimista" e também para homenagear os otimistas como eu.

Espero ao fim desta semana poder ver o Obama, que já falou para Lula "Esse é o cara!", se expressar depois da eleição do Rio de Janeiro como sede das olimpíadas: "Este é O PAÍS!"


terça-feira, 1 de setembro de 2009

politiquinhas 2

Quem já foi a uma assembléia de condomínio sabe da chateação que é. Lá se reúnem pessoas que pouquíssimo tem em comum – tirando logicamente o fato de morarem no mesmo endereço – com o objetivo de resolver os mais variados assuntos: desde a cor do ladrilho que será colocado até seu o Fulano do 501 que anda de sapatos pela casa e atrapalha o sono da dona Cliclana do 401. Mas, mesmo um condomínio de muitos apartamentos, é raríssimo um quorum que chegue a 50% dos moradores - regra geral.

Até em uma reunião dessas, que não envolve tantas pessoas assim, a bagunça é certa. Todos dão suas opiniões, se interrompem e fica difícil colocar ordem na casa.

Agora, imagine você, se cada rua a ser asfaltada no país, cada escola a ser construída, ou cada médico a ser contratado tivesse que ser decidido pelos quase 190 milhões de brasileiros ao mesmo tempo? A inviabilidade disto ocorrer é óbvia.

Por conta desta dificuldade, criou-se a figura do político. Nós confiamos ao político a tarefa de decidir por nós, já que não podemos estar presente nas decisões governamentais. E ele, por sua vez, representa um número x de pessoas. O fato de más pessoas estarem ocupando estes cargos na sociedade se deve a uma infinidade de motivos: legislação que os favorece, motivos históricos e culturais, poder e regalias excessivas, etc. Ou seja, questões que foram mal fundamentadas ao longo do tempo e que conferiram a este tipo de servidor público, uma imagem e um papel distorcido daquilo que se espera dele.

O Senado Federal é um caso típico. A título de esclarecimento, o Congresso Nacional do Brasil possui a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. A primeira casa tem como papel fundamental representar o povo e, por isso, cada Estado brasileiro tem uma cota diferente, conforme a população - Santa Catarina possui 16 deputados federais. Já o Senado representa as Unidades Federativas da União, isto é, os Estados e mais o Distrito Federal. Por esta razão, todas as unidades tem o mesmo número de senadores: três.

Acontece que isto, em minha opinião, acaba gerando uma distorção muito grande e sucedendo outros problemas. É muito mais fácil eleger um político mal intencionado no Amapá ou Roraima (ambas as populações em torno de 500 mil habitantes) do que em São Paulo e seus 40 milhões de pessoas. E então somos presenteados com aquelas cenas de brigas, xingamentos, etc. na televisão. O Senado está em crise. Que falácia. O Senado SEMPRE esteve em crise. Quem não lembra que Antônio Carlos Magalhães e José Arruda (atual governador do Distrito Federal) violaram o painel de votação do Senado para bisbilhotar os votos secretos de cada senador? Agora falam em atos secretos e sempre tem alguma barbaridade a ser noticiada.

José Sarney, como devem saber, é o Presidente do Senado (e o terceiro homem a assumir a presidência, em caso de ausência de Lula, José Alencar e do Presidente da Câmara). Ele foi um dos fundadores do PFL, hoje DEM, mas agora é do PMDB. Ele já foi eleito pelo Maranhão, sua terra natal, mas atualmente transferiu seu título eleitoral para o Amapá e hoje é Senador da República por aquele Estado.

O Governo Federal não possui a maioria no Senado. Consequência: ou se alia com outros partidos e conquista a maioria. Ou simplesmente cria-se uma oposição tão forte e voraz pelo poder que barra qualquer tipo de projeto para votação e o país torna-se ingovernável. O PMDB é o partido escolhido por todos que precisam de apoio. Primeiro porque lá está gente de todo tipo: bons, maus, péssimos. Depois, porque o partido não tem ideologia nenhuma, apenas apóia quem lhe convier. E, por fim, porque se trata do maior partido do Brasil. Muitos governistas de hoje tiveram que engolir esta aliança, assim também como na época do governo FHC não foram todos que faziam parte do governo que aceitaram o apoio do partido numa boa.

Infelizmente, tudo vira um jogo ridículo de poder. A oposição, agora em Agosto denunciou José Sarney por uma série de coisas. E é claro que ele tem coisa a esconder. O governo, aprendeu que não deve ficar passivo a jogo e resolveu denunciar Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado. É outro que também com certeza deve ter o rabo preso. Pronto, tudo se aquietou, foi arquivado e não se fala mais em crise, por enquanto.

Nesse rebuliço todo que se criou o jornal Folha de São Paulo publicou uma entrevista com Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal, onde esta afirmava ter sido chamada por Dilma Houseff em seu gabinete e requisitada a "agilizar os processos de investigação de fraudes em empresas do filho de José Sarney". Lina foi chamada a depor em uma comissão no Senado. E o babaca aqui ainda foi assistir, lamentavelmente, ao vivo pela TV Senado. Eu parecia um torcedor de futebol torcendo pelo meu time, no caso, para os políticos que me agradam. Antes da senhora ex-secretária chegar, eles começaram os discursos venenosos de ataques. Quando ela falou, reafirmou o que disse na entrevista, porém com um tom muito mais leve, alegando que o que a ministra pediu não foi nada ilícito e, de fato não foi. Tudo foi culpa do jornalista infeliz da Folha que inseriu uma conotação provocativa no depoimento de Lina Vieira.... E assim prosseguiu o disse-que-me-disse até que alguns senadores começaram a se retirar da comissão e eu me retirei da frente da televisão.

Não é possível que aqueles caras que nós deixamos cuidar das nossas decisões enquanto fazemos outras coisas fiquem discutindo picuinhas, pior que em uma reunião de condomínio. O Brasil pede passagem para crescer em todos os níveis da sociedade, muita coisa está acontecendo, mas sempre esbarrando em leis mal fundamentadas e numa série de questões que deveriam ser de cuidado do nosso Congresso. Nós, os mais novos, é que devemos pensar em uma nova maneira de delegar poder de decisão para alguém, diferente dessa que temos agora, muito distorcida, sem credibilidade nenhuma e de eficiência zero.