terça-feira, 8 de dezembro de 2009

de volta

        E os cansaços do corpo e da mente se juntavam aos milhares de pensamentos por segundo da minha cabeça, na missão de atrapalhar a decisão sobre o pedido. Além disso, a vontade de reparar nas pessoas ao meu redor era outro forte estímulo.
        "Quarteirão ou Cheddar?", chego a filosofar por instantes. Mas a fila era grande e eu ainda tinha bastante tempo para a decisão final. Tenho mensagens a responder, lembro-me. Pego o celular, observo as horas sem me dar conta de quão cedo ou tarde isto poderia ser e me dirijo a "escrever mensagem". Rapidamente informo ao Sandri que agora já estava indo comer. Mentalmente reflito que em sua mensagem de texto havia certa dose de preocupação com o amigo, ao perguntar-me se já estava no meu destino. Também mentalmente o agradeci por isso: é legal quando alguém, além de nossos pais, demonstra preocupação quando nos metemos em situações que podem envolver riscos, como no sermão de pai que o Henrique me fez antes de pegar a estrada, o que foi positivo.
- Um Big Mac com coca, por favor! - Solicita a gordinha com forte sotaque gaúcho na minha frente.
- Batatas-fritas grandes por 50 centavos a mais?
- Sim.
        "Nem pensar", eu diria. A sensação da camiseta após ter suado bastante me incomoda um pouco, mas não muito. Será que estou fedendo? Ah, foda-se, ninguém me conhece, mesmo. E essas camisetas caras cheias de tecnologia de absorção não deveriam permitir isto, certo? Ah sei lá. Minha vez está chegando.
Na fila à minha esquerda, uma guria bonita me chama atenção. Muita atenção, na verdade. Não consigo parar de olhar pra ela. Muito linda, mesmo. E colorada! Mas seu namorado, também colorado, já está me encarando e colocando fim à minha contemplação. Será que um dia eu me casarei com uma mulher que torce pro Inter? Que pensamento estranho, mas de verdadeira vontade.
- Próximo! - repete a moça pela segunda vez e um ligeiro tom de irritação na voz.
- Opa! A promoção do Cheddar, com coca!
- Batatas fritas gran...
- Não, obrigado.
        Outra fila a ser encarada, mas de menor tamanho. Um gurizinho de uns 4 anos, muito engraçado, me chama atenção agora. Uniforme completo do Inter e número 5 na camisa, do ídolo Guiñazu. O guri de olhos bem verdes me percebe, me fita e, de repente, fica sério. Engraçado como isso acontece comigo. Adoro crianças e geralmente fico contemplando-as com um sorriso bobo no rosto. Então muitas delas param o que estão fazendo e ficam vidradas olhando para mim. O pai deste coloradinho tem entre 30 e 40 anos e então eu percebo que havia mais crianças uniformizadas de Internacional com pais relativamente jovens. Então me impressiono quando me dou conta de que crianças acompanhadas de pais "não-velhos" formam a maioria daquele ambiente.
        Finalmente pego minha bandeja e vou me sentar. Sozinho.
"Ah, mas tá tri bom. Ano que vem tem libertadores!", observa a guria na mesa ao lado para o grupo de amigos e amigas. Será que aqui só tem gurias bonitas ou a camisa do Inter que elas vestem faz-me pensar que todas são?
Na minha frente, uma família de gremistas. Estariam contentes eles? Parece-me que sim, pois o assunto futebol não estava mais em pauta, ao que pude perceber.

        Que coisa louca é o futebol, penso. Olha aonde vim parar! Viajo mais de 500 km, me encontro com amigos no estádio, vejo meu time ganhar e quase ser campeão brasileiro e venho parar sozinho no Mc Donnald's da Ipiranga com a Silva Só, antes de ir para a casa da minha tia.
        E será que conseguirei pegar a Silva Só novamente sem fazer o retorno?
    Na verdade tenho vontade de andar pela cidade. A atmosfera de Porto Alegre me atrai muito e até me modifica. Tenho certeza de que um dia irei morar por lá. E casar com uma colorada. E com ela ir aos jogos do meu Inter... Ok, me empolguei naquele momento. Agora, em Florianópolis, mais calmo, escrevendo este texto percebo que são meramente grandes divagações sem a menor pretensão de se tornar realidade.
        Mas a movimentação da capital gaúcha e de suas pessoas realmente é algo que mexe muito comigo, difícil de explicar. Aprecio até poder sintonizar a Liberdade FM e a rádio Gaúcha ao chegar pela free way. Ouvir música gaúcha e saber que muitos conheceram meu avô. Tomar chimarrão e não se sentir um estranho. Assistir ao Globo Esporte falar sobre o meu time, demais!
        
          Dá pra ver o quanto sou apaixonado por futebol e pelo meu time, não? É um sentimento muito louco, mesmo. Gasto boas horas do meu dia com isto. Quem sabe um dia até venho trabalhar no ramo. Administração esportiva, futebolística, sabe-se lá. Mais especulações sobre o futuro, apenas especulações.

        E é assim que resolvi retornar aos textos aqui do blog, que deve ter perdido toda sua audiência. Um texto meio embolado e sem objetivo de conclusão, mas que homenageia a cidade que tanto gosto e o meu time do coração. 
         Na posição de observador solitário, com uma descarga de pensamentos e sensações a todo o momento me encontrarei também daqui a menos de uma semana. Viajarei sozinho ao Canadá e por lá permanecerei durante pouco mais de 2 meses. Estar na condição de viajante desconhecido e forasteiro, quase invisível, e poder reparar em pessoas diferente de mim é uma das coisas que mais gosto de fazer na vida.
        Portanto, não faltarão oportunidades para descrever aqui no blog situações que me ocorrerão neste novo dia a dia. Não que esteja fazendo propaganda do tipo "não percam no próximo capítulo: Diogo observa as pessoas do Burger King de Toronto!" Nada disso. Só acho muito legal registrar o que vier a me acontecer e as impressões que tive. Certamente um dia gostarei de ler de novo.

        Por agora, pretendo escrever mais um pouco antes de embarcar, coisas que tive muita vontade de escrever, mas que o compromisso com as faculdades me impediu de fazê-lo, enquanto me despeço da minha cidade, do meu país e das pessoas que fazem parte da minha vida. Até mais!