terça-feira, 18 de agosto de 2009

pertinente


"Será que existe um Brasil em outros planetas??"

(Luis Fernando Veríssimo)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sobe e Desce

Décimo.
–Oitavo.
–Sexto, por favor – digo.
–Oi! O sétimo, por favor.

Silêncio.

"Senado vai investigar novos atos secretos", leio no monitor ao alto.

Sexto andar. Elevador subindo. – Diz a gravação.
Desembarco e vou fazer o que tenho que fazer. Volto depois de um tempo e aperto o botão. Um momento e as portas se abrem.

–Desce! - Diz a moça sentada no banquinho vestindo uma máscara para proteger-se da nova gripe e finalmente pude escutar sua voz. Ela lia uma revista, dessas pequenas, de fofoca. Mais uma parada e:
–Desce! – Parece-me que não há gravação para este procedimento, obrigando a acessorista a utilizar suas cordas vocais.

–Térreo.

Fim da minha viagem, mas ela ainda terá mais de cem delas até o fim do dia e eu me pergunto: pra quê acessorista nos dias de hoje? Pagar para alguém ficar confinado em um caixote de menos de 4m² subindo e descendo o dia inteiro, sendo que os passageiros do elevador podem cuidar do procedimento de apertar os botõezinhos correspondentes aos andares que estes desejam se destinar! Terrível, coitada da moça.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

ciúmes

Colocarei aqui uma passagem do livro que ando lendo no momento, Leite Derramado do Chico Buarque, e não precisarei comentar mais nada.

"Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta. O ciúme é então a espécie mais introvertida das invejas e mordendo-se todo, põe nos outros a culpa da sua feiura."

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

um pouco sobre o que eu penso dele


Agora sim, acho que finalmente conseguirei terminar um texto sobre o Michael Jackson, ignorando o fato de que o leitor está se recuperando de uma overdose de noticiários e documentários sobre o ídolo do pop.

Opa, overdose de noticiários e de documentários? Eu já não disse que isso aconteceria aqui no meu blog? Sim, e disse antes de ele morrer. Mas, por favor, não pense que eu profetizei este acontecimento triste porque sempre fui fã do Michael Jackson. Imaginei que a nova turnê do astro iria causar uma histeria na mídia um pouco menor do vimos recentemente, causados pelo seu óbito.

Gostaria muito de ter visto a nova saga do Michael pelo mundo e creio que tinha tudo para ser um sucesso.

Com a sua morte, eu fiquei obcecado por sua vida e passei a ler e assistir muito a respeito, pois pouco sabia. Quanto mais informações eu absorvi, menos conclusões obtive sobre as mais estranhas e excêntricas coisas que ele fez em vida.

O que posso fazer aqui é um pequeno relato de sua trajetória.

Michael Jackson nasceu negro e pobre nos Estados Unidos, e acredito que isso seja um enorme potencial para a formaçao de uma baixa auto-estima em uma criança. Contudo o garoto reverteu essa situação muito rapidamente, por demonstrar um dos maiores talentos artísticos que já se viu. Seus irmãos e ele formavam uma banda chamada Jackson Five que tocava músicas com certa ingenuidade jovial, agradáveis e que se encaixaram no movimento Black americano da época. E a figura do pequeno Michael era muito impressionante: Como podia um garoto de 12 anos, ou menos, cantar daquele jeito, sorrir com tamanha simpatia e segurança no palco e liderar (sim, liderar!) a banda em que tocava com seus irmãos?

Não tardou para que um renomado produtor musical o procurasse e o ajudasse a gravar o seu primeiro álbum de sucesso, o Off The Wall, com diversos sucessos, forte característica da música Black e inovações na maneira de se gravar músicas para a época, buscando uma espécie de precisão dos instrumentos e vozes. Para algumas músicas o então garoto ainda gravou clipes de uma maneira então jamais realizada. Antes dele, video-clipes eram apenas a gravação da música em um show qualquer, em vez de uma série de tomadas de atuações com o fundo musical lembrando um filme curta metragem, a exemplo dos que temos hoje em dia.

Mais tarde e mais velho Michael Jackson simplesmente fez o álbum mais vendido de todos os tempos. Thriller ainda trouxe clipes cada vez mais sofisticados e inéditos, danças com coreografias desafiadoras. Tudo agressivamente revolucionário e altamente encantador.

Ao mesmo tempo, a explosão da massificação das telecomunicações fizeram com que nascesse o sensacionalismo e a necessidade de se divulgar na mídia (ainda que muito restrita) o "aqui e agora", seja lá onde e o quê for. É claro que Michael Jackson foi uma das primeiras cobaias por ser um alvo fácil e muito querido. Se o leitor tiver a paciência de procurar no youtube alguns clipes desta época (um dos que eu gosto muito é Michael Jackson e Paul McCartney em Say, say, say) pode perceber como era incrível o carisma daquele rapaz, seu jeito doce e inocente, uma pessoa muito do bem. Da maneira em que ele conquistou bilhões de admiradores pelo mundo, sua vida foi escancarada e em todo o lugar que ele passou a frequentar, ele era filmado, tinha de posar para fotos, dar entrevistas e posteriormente dar explicações dos mais variados assuntos possíveis.

Mas aí há um importante detalhe. Michael Jackson esteve trabalhando durante uma boa parte de sua infância e por toda a sua adolescência. Certamente nunca frequentou uma festinha de colégio, participou de gincanas de colégio, nem praticou esportes com colegas, brincou de rua, nunca foi à Disney e outras coisas normais de uma vida americana normal. Tudo na sua vida foi muito monitorado desde cedo. Soma-se isso ao forte indício de que ele tinha pavor de seu pai, que supostamente o batia muito. (E não é de se duvidar, pois é só ver qualquer entrevista com o seu Joseph Jackson para que uma série de questionamentos nos passe pela cabeça, até os do tipo: Como pode um garoto tão talentoso, inteligente e amável foi criado por um animal estúpido e imbecil desses?)

Depois do álbum Thriller, Michael Jackson começou a "embranquecer" e sua música e dança passaram a dividir espaço com as chacotas e piadinhas. Gravou mais dois álbuns de músicas inéditas, mas não se comparam com o sucesso do antecessor, Thriller. Parece-me até que as músicas destes últimos (Bad e Dangerous) são mais agressivas e não soam tão naturalmente como as de antes. Talvez seja um reflexo do que o artista vivia no momento, até o ponto de lançar a música Give me Alone (deixe-me sozinho, ou em paz) com um clipe onde mostra exatamente o que ele deveria estar sentido no momento: vontade de sonhar, voar e viver livremente.

Posteriormente, Michael deu uma sumida e veio parar aqui no Brasil. Fez um dos clipes mais legais dele, em minha opinião, em que teve a sensibilidade de perceber que as favelas no Brasil (um lugar que ele pouco conhecia) eram submundos esquecidos pelo resto do planeta e possuíam uma enorme vontade de mostrar que aquelas pessoas existem. Foi a música chamada They Don't Care About Us (Eles não ligam para a gente). Procure no youtube e verás aquela branquitude toda de Michael Jackson contracenando com a pobreza, tristeza e felicidade da favela carioca e do pelourinho baiano (dois lugares de sofrimento para o negro).

Será que ele saiu do conforto de sua mansão NeverLand em vão? Ou será que ele percebeu algo que não se fazia idéia de que existia, sobretudo nos Estados Unidos, e quis passar alguma mensagem ao mundo? Ele também fez isso no programa USA for Africa e em outro clipe sobre o aquecimento global que eu esqueci o nome (muito antes da mídia global anunciar a existência deste fenômeno).

Bom, o resto você já deve saber. Michael Jackson começou a aparecer em público cada vez mais estranho, fragilizado e sempre se defendendo.

Os Estados Unidos da América é a casa de um dos povos mais estúpidos do mundo, onde cada vírgula mal colocada em um contrato pode gerar milhões de dólares a um espertinho que resolva processar judicialmente o caso. Diversas personalidades americanas são frequentemente alvo dos aproveitadores que querem enriquecer desta maneira. Não foi diferente com Michael Jackson, absurdamente acusado de pedofilia.

Primeiro que a criança era ele. Depois desta reviravolta toda em sua vida, quando ele começou a ficar debilitado, visivelmente Michael Jackson resguardou-se e tentou resgatar em Neverland a infância que não teve. Sua maneira de falar (procure em qualquer entrevista dele no youtube) não é de alguém malicioso ao ponto de abusar sexualmente uma criança. Seu olhar, mesmo depois de tantas transformações, ainda permaneceu sereno e puro como o de uma criança.

A questão da cor da pele é intrigante e jamais revelada por ele. Ou ele realmente estava mal psicologicamente, entrando no campo da loucura para fazer aquilo propositalmente ou é algo que me parece o mais sensato: Michael Jackson tinha alguma doença de pele ou de pigmentação, o que fazia sempre vestir roupas compridas e proteger-se do sol com guarda-chuvas e máscaras.

Existe, inclusive, no youtube, uma entrevista da Glória Maria da época em que ela foi entrevistar o rei do pop aqui no Brasil, quando ele estava gravando o clipe mencionado há pouco. Diz ela que se sentiu mal ao se aproximar do mito, pois ela, que sempre o julgava e fazia piadinhas sobre seu tom de pele metamorfósico foi tocada por toda a bondade e pureza que ele transmitia, além de que Glória Maria percebeu que aquela brancura de sua pele era uma brancura doentia e não sadia e muito menos estética. Seu depoimento pode ser visto em: http://www.youtube.com/watch?v=2AAc58Psxeg

É muito louco também assistir a outra entrevista em que Michael Jackson, já todo desfigurado, afirma que só fez uma cirurgia plástica na vida, a do nariz e que esta serviu para que ele pudesse cantar notas mais agudas. É claro que a gente vê uma mudança brutal em sua face. Ou ele estava dizendo a verdade e, de repente, sofreu de uma doença não revelada e desconhecida que desfigura os efermos, ou ele estava com algum distúrbio psicológico e buscava uma perfeição plástica que jamais encontrou. Neste caso, o mais revoltante é pensar como podem existir médicos tão canalhas e mercenários ao ponto de fazer aquilo com seu rosto e não tratar da cabeça do paciente?

Há quem diga de que ele estaria renegando sua negritude fisicamente mas enaltecendo-a mundo a fora com tais projetos sociais e clipes com este tema. Dizem metaforicamente, então, que justamente no ano em que ser negro nos Estados Unidos é algo bom e que traz orgulho ao negro (presidente do país é negro e seu discurso é voltado para a igualdade étnica) o rei do pop que supostamente não aceitaria a sua condição de negro, foi embora. O que eu discordo muito.

Acredito que Michael Jackson tenha sido um ser humano muito diferente dos que habitam o nosso planeta hoje, pois revolucionar a arte é capacidade para pouquíssimos. Estas interpretações sobre suas "maluquices" (ainda existem muitas outras que deixei de colocar aqui) talvez sejam sinais em que ele procurou nos transmitir e, no entanto, não tivemos a capacidade de captar (lembrando, por exemplo, que Johan Sebastian Bach, um dos maiores músicos de todos os tempos foi fazer sucesso apenas 200 anos após sua morte, pelo fato de que seus contemporâneos não o entendiam).

E talvez todo o talento de Michael Jackson tenha sido gradativamente sufocado por toda a infâmia americana, que contagiou o mundo inteiro, restando dele apenas uma criança ao final de sua vida.