quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sobe e Desce

Décimo.
–Oitavo.
–Sexto, por favor – digo.
–Oi! O sétimo, por favor.

Silêncio.

"Senado vai investigar novos atos secretos", leio no monitor ao alto.

Sexto andar. Elevador subindo. – Diz a gravação.
Desembarco e vou fazer o que tenho que fazer. Volto depois de um tempo e aperto o botão. Um momento e as portas se abrem.

–Desce! - Diz a moça sentada no banquinho vestindo uma máscara para proteger-se da nova gripe e finalmente pude escutar sua voz. Ela lia uma revista, dessas pequenas, de fofoca. Mais uma parada e:
–Desce! – Parece-me que não há gravação para este procedimento, obrigando a acessorista a utilizar suas cordas vocais.

–Térreo.

Fim da minha viagem, mas ela ainda terá mais de cem delas até o fim do dia e eu me pergunto: pra quê acessorista nos dias de hoje? Pagar para alguém ficar confinado em um caixote de menos de 4m² subindo e descendo o dia inteiro, sendo que os passageiros do elevador podem cuidar do procedimento de apertar os botõezinhos correspondentes aos andares que estes desejam se destinar! Terrível, coitada da moça.

2 comentários:

Gabriel disse...

A sede administrativo de uma grande empresa em São Paulo (se não me engano o banco Itaú) é um dos poucos lugares onde ainda se vê ascensorista. Um dos executivos da empresa foi indagado sobre o assunto em uma palestra e explicou que a vaga só existe porque os "velhinhos" que trabalhavam como ascensorista na empresa trabalhavam nesta função há muitos anos e não sabiam desempenhar nenhuma outra função senão apertar os botões do elevador. Se fossem demitidos de lá não teriam condições de conseguir um novo emprego. A manutenção da vaga funciona como um programa social da empresa.
Para mim é a única explicação aceitável.

DiogoBertussi disse...

É, dá para aceitar esta explicação, mas não em concordar com ela. Pessoas podem aprender a fazer coisas até o fim de suas vidas, desde que física e mentalmente saudáveis.
Programas para capacitação de profissionais não nos faltam, é necessário apenas um pouco mais de cuidado com esse tipo de situação, que me parece estar sendo tratada de forma tão banal que a maioria das pessoas que entram naquele elevador nem devem perceber que há algo de errado ali.