terça-feira, 14 de dezembro de 2010

texto vago

Há momentos na vida que eu paro para refletir sobre minhas características pessoais que dizem respeito à relação com os meus sentimentos e com o mundo que me cerca. De que maneira eu lido com um relacionamento, com uma simples conquista amorosa, com um jogo de futebol entre amigos, com um jogo de futebol do meu time, com a conquista (ou não) de uma vaga de emprego, com os sucessos e fracassos na vida estudantil e tudo o mais que envolva as minhas emoções.
Em geral, costumo levar tudo de maneira intensa, muito intensa. Se meu time de futebol ganha um campeonato, é motivo para esquecer-se de tudo e comemorar muito. Se eu consigo conquistar a guria que pretendia, a felicidade é tamanha que tudo em volta passa a ser menos importante. Se eu jogo bem uma partida de futebol, me sinto um craque pronto para jogar profissionalmente. Se consigo uma boa nota, me considero um gênio. O problema está em frear este caminhão de emoções quando o jogo se inverte.

Mesmo no alto da autoconfiança e da sensação de super homem, devemos admitir: não se pode vencer sempre.

A felicidade, que em geral é trazida pelas pequenas e grandes vitórias diárias, deixa-nos extasiados e com gana de prosseguir vencendo. Coloca-nos, entretanto, em um estado menos autocrítico e de dispersão – ou negligência – em relação ao resto do mundo e à nossa própria conduta.

A inevitável e mal-vinda tristeza nos deixa depressivos, sem vontade de viver. É o grande mau que ninguém quer sofrer no século XXI. Pois eu digo que, ao menos, ela deixa-nos mais ligados e, com um pouco de pró-atividade para vencer a inércia, é combustível para a busca de mais vitórias, apesar de toda a dor que ela provoca na alma e do constante despreparo que temos para o que pode vir a dar errado.

Acredito que estas sejam as sensações universais de todos com relação à alegria e ao desgosto. O que diferencia entre cada indivíduo, portanto, é a intensidade de sentimentos que cada um coloca nas suas conquistas e fracassos. Ser intenso quando se ganha é ótimo, excelente, a melhor coisa do mundo. O contrário é totalmente válido para quando se perde.

Pergunto-me nesse momento se, na média, as pessoas que não se emocionam tanto diante dos eventos de suas vidas – e olha que eu conheço muita gente assim – não acabam sendo mais felizes e mais equilibradas para construírem suas vidas.

sábado, 27 de novembro de 2010

Rio de Janeiro, Novembro de 2010.

            Imagine você morar em um condomínio onde o síndico pudesse chegar a qualquer momento à sua casa e lhe mandar embora, intimidando-o com sua força física. Provavelmente era assim que funcionavam as coisas na Idade da Pedra, pré-história, em um imaginário condomínio de cavernas. Creio que não era raro quando uma família, dignamente repousando em seu recanto e cuidando dos filhos, era expulsa pelo líder quando este bem entendesse, numa demonstração do lado animalesco do homem troglodita nos primórdios da humanidade.
            Muitos séculos passaram e ainda na Idade Média, os Senhores Feudais gozavam do poder de retirar quem eles bem entendessem de seus lares. Nesta época, o poder do mais forte se dava pela força da posse, isto é, o Senhor Feudal era o proprietário das moradias dos camponeses, cujas vidas não faziam mais sentido a não ser por servir ao seu Senhor e garantir suas existências e seus lares.
            A Sociedade moderna até que evoluiu neste sentido. Para evitar situações como estas, criou-se o Estado Democrático de Direito, assim constituído no Brasil e na maioria dos países ao redor do mundo. Nestes lugares, ditos civilizados, o poder e a força deixaram de ser ostentados pelo mais forte ou pelo maior proprietário. (Evidentemente há controvérsias, uma vez em que no mundo capitalista posse é poder, mas isto é papo para outro texto).
            No caso do Brasil, os integrantes do Estado Democrático de Direito – cada um de nós – concedemos poder a três instituições, como você deve saber, que são de propriedade do povo. O Poder Judiciário tem como papel básico resolver os conflitos de poder entre todos os entes da sociedade. As polícias, o Ministério Público e a Promotoria de Justiça (órgãos que não estão instalados nos três poderes), fiscalizam e realizam justiça, nos casos em que se identificar discrepância de poder em alguma das partes conflitantes, seja este poder caracterizado de diversas maneiras – principalmente com violência.
            O que a criação do Estado Democrático de Direito propõe primordialmente, portanto, é promover a paz entre a sua população e fazer com que todos os seus integrantes possam viver suas vidas e se desenvolver de maneira igual perante um poder concedido e à Lei do Estado. Na teoria, tudo é lindo.

...
           
       A partir da segunda metade do século passado o Brasil, e a maioria dos países subdesenvolvidos, passou a conviver com um fenômeno tão problemático quanto inevitável: o deslocamento das pessoas do campo para os centros urbanos. Por se tratar de um país pobre e que não precisava de tanta gente assim trabalhando nas cidades – além, claro, de uma situação política nada favorável como foi descrita no texto sobre a ditadura militar – grande parte da população teve de improvisar moradias em áreas irregulares da cidade, criando ambientes onde o Estado não conseguia mais penetrar para ofertar educação, segurança e saúde durante muito tempo – e, de certa maneira, também negligenciou esta situação, bem como a existência destas pessoas.
            O resultado terrível, na ausência da Lei e principalmente de educação, foi um retrocesso social no qual se verificou situações similares às do Tempo das Cavernas – gente criando e revogando leis e regras conforme sua vontade e força, permitindo a entrada e saída de quem bem entendesse destes submundos e ostentando poder em forma de armamento pesado.
            O tráfico de drogas no Rio de Janeiro, pulverizado em tempos remotos entre a classe consumidora, passou a ser mais lucrativo nas favelas por diversos motivos: dificuldade da entrada da polícia, grande oferta de mão de obra ociosa, proximidade destes redutos ao mercado consumidor (pois no Rio, os morros estão dentro da cidade), entre outros. Inicialmente, entretanto, este negócio não era fortemente armado, afinal, traficante nenhum quer incomodação, e sim o dinheiro das vendas. Quando o poder público tentou enfrentar o tráfico de drogas na base da porrada, o movimento reagiu da mesma maneira.
            O Brasil, por ainda se um país muito carente e, por consequência, o Estado e a cidade do Rio de Janeiro também, as ações repressoras dos governos passados fracassaram por si só e agravaram ainda mais o problema: Os bandidos e traficantes se uniram, se organizaram e se armaram, fazendo das favelas as suas fortalezas intocáveis, onde o policial que conseguisse adentrá-las seria facilmente corrompido ou morto.

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            O Brasil que nasce na segunda década do século XXI (2010 em diante) é um Brasil diferente. Não somos mais (tão) pobres. Continuamos com diversos problemas, porém há dinheiro a ser investido em nossas fraquezas. Você assistiu no filme Tropa de Elite 2 a evolução dos aparatos da Polícia Militar do Rio de Janeiro e, principalmente, do Batalhão de Operações Policiais Especiais, o BOPE, que agora opera até com helicópteros e conta com um contingente de homens muito maior do que o do primeiro filme. Deve ter assistido, também, no apelidado "Tropa de Elite 3" (referência aos recentes ataques dos traficantes cariocas) a quantidade de camionetes importadas, tanques, armas, helicópteros e outros aparatos de guerra que o BOPE hoje dispõe. A discrepância de força entre o poder da máfia e o poder da sociedade (a polícia), definitivamente se inverteu.
            O que está acontecendo nos dias de hoje na cidade do Rio de Janeiro é a consequência inevitável (e já prevista pelo Governo do Rio e pela sociedade carioca) de dois eventos importantes que vieram acontecendo nos últimos três ou quatro anos na cidade maravilhosa. O primeiro deles é a emergência da máfia da Milícia: Bandidos da pior qualidade, infiltrados nas diversas áreas do poder do Estado e ganhando muito dinheiro à custa dos próprios moradores das favelas. Não vou, entretanto, abordar este assunto, pois ele é muito bem colocado em Tropa de Elite 2 que, caso você ainda não tenha assistido, faça-me o favor de ir logo.
            O segundo importante acontecimento é um projeto novo da Secretaria de Segurança do Governo do Rio de Janeiro que está dando no que falar. Entendidos em segurança pública chegaram à conclusão de que não adianta subir o morro com tropas fortemente armadas e prender os líderes do tráfico de drogas. Por quê? Porque estes guetos haviam se transformado em verdadeiras escolas do crime e do tráfico de drogas, de sorte que, uma vez eliminada a existência de um líder, logo apareceria outro em seu lugar e passaria a usufruir de toda a estrutura já montada para se ganhar dinheiro ilegalmente e, principalmente, se manter no poder sobre milhares de habitantes. A grande solução encontrada foi nada menos do que tomar o território dos bandidos, criando as UPP: Unidade de Polícia Pacificadora. No lugar do adolescente portando arma para cima e para baixo na vigília do tráfico, policiais em permanente ocupação. E os bandidos? Eles é que procurem outro morro para traficar.
            As UPPs foram aumentando em quantidade e os traficantes, cada vez mais encurralados, sem território. Só lhes restou partir para um artifício de quem não tem mais nada a perder: o terrorismo.
            O que está acontecendo no Rio de Janeiro agora no final de novembro de 2010 é praticamente um manifesto dos traficantes, agora pobres e enfraquecidos. Estes atos são mais políticos do que criminosos, uma rebelião.
            Diferentemente de outras épocas – quando os traficantes mandavam fechar o comércio, as escolas, quando bem entendiam e a população acatava, com medo de uma guerra entre traficantes e policiais – os moradores do Rio desta vez estão dispostos a ver o pau comer dentro da cidade, pois viram o sucesso que foi as operações para a instalação das UPPs. Além disso, um novo sentimento de confiança e admiração pelo trabalho polícia vem crescendo, o que cria tolerância de alguns dias até que a ordem seja estabelecida, por mais prejuízos que a população de bem venha sofrendo.
            O complexo do Morro do Alemão é o alvo final para que a maioria dos grandes cartéis de narcotráfico do Rio de Janeiro seja desmontada. Os últimos marginais se deslocaram para lá por uma série de fatores (dificuldade de acesso pela polícia, tamanho gigantesco do conjunto de favelas, etc.) e as autoridades de segurança praticamente já sabiam que um dia isto iria acontecer. Chegou a hora. O grand finale será acabar com estes elementos na base da bala, da prisão, ou deixá-los livre pela cidade a cometer outros tipos de crimes. Crime organizado e tráfico, contudo, nunca mais. O aborto social está sendo feito com o consentimento da maioria.

  
            Esta semana ficará marcada na história do país por ser o dia em que uma grande quantidade de pessoas, considerada sem condições de viver em sociedade e sem conserto, foi eliminada ou presa. Ainda, será a semana simbólica do início do fim do crime organizado por tráfico de drogas no Rio de Janeiro, depois de décadas.
            Ainda que eu sinta um alívio em ver a paz de volta aos morros cariocas, é difícil assumir o sentimento de felicidade ao ver estas pessoas, que nunca tiveram acesso a nada, sendo mortas. É uma sensação de satisfação misturada com luto: Uma parcela da sociedade pagando com a vida em nome da ordem e, posteriormente, do progresso.
            É óbvio que o crime não desaparecerá do Rio de Janeiro, que a cidade continuará tendo assaltos, seqüestros e roubos. Uma coisa, no entanto, é importante celebrar: os meninos que crescem em uma favela não terão mais como exemplo de poder e de sucesso os traficantes que antes por lá perambulavam armados, com muito dinheiro, objetos de desejo e mulheres. É uma chance de ouro para implantar outros valores nesta nova geração. Desta maneira, um indivíduo que venha a transgredir as leis, quem sabe agora seja caso de possível reparo, de maneira a inseri-lo novamente na sociedade, ao contrário destes homens infelizes que estão hoje tocando o terror no Rio. Quem sabe o Estado, finalmente, possa se valer de seu  sistema carcerário e passar a investir melhor nele. 
...
           
            Bastante otimista a minha visão, você deve estar refletindo. Não nego que, a despeito da minha vontade de que isto se concretize, é mais ou menos isto o que eu enxergo, mesmo.
            Como otimismo é comigo mesmo, observe a evolução do Brasil durante as décadas, sob a minha ótica.

Anos 70: Anos de chumbo, ditadura militar, repressão, mentira, tortura, endividamento.
Anos 80: Incapacidade de pagamento da dívida, empobrecimento da população, desigualdade social, aumento da violência, crises financeiras. Porém, importante (e conturbado) processo de democratização.
Anos 90: Democracia estabelecida e consolidada – depois da turbulência Collor. Estabilização da moeda, da economia e, principalmente, controle da inflação. Importantes regulamentações administrativas (tanto fiscais quanto monetárias), que impediram maior endividamento do país. Entretanto, desigualdade social alta, violência, desemprego na casa dos 20%, infra-estrutura, saúde e educação precárias e alto endividamento (dependência) externa.
Anos 2000: Manutenção da estabilidade econômica. Desemprego mais baixo da história (6%), dívida externa paga, protagonismo no cenário mundial, início da diminuição da desigualdade social, crescimento econômico e aumento da renda da população. Todavia, a infraestrutura ainda ruim, bem como educação e saúde, apesar de ligeiras melhoras. Violência em índices elevadíssimos.

Anos 10: Obviamente não sabemos. Mas meu palpite é que seja a década da segurança e da infraestrutura, ainda mais porque o país será sede dos dois maiores eventos do mundo o que forçará o país a ofertar segurança e condições de locomoção ao mundo que virá até nós. Creio que o PAC está sendo apenas um ensaio para a revolução estrutural que estamos prestes assistir. Vejo também o país mobilizado e coeso na questão da segurança. É agora ou nunca o momento da valorização e união das polícias, uma revolução no sistema carcerário do país e, como resultado, índices mais baixos de violência, bem como maior sensação de segurança em todas as cidades do país. Quem sabe a década de 20 não seja finalmente a da educação, para que a de 30 venha a ser a da tecnologia de ponta?

            É provável que você discorde por considerar otimismo demais. Por outro lado, acredito que considerar uma década inteira para que cada uma destas revoluções ocorra tenha bastante dose de realismo.




terça-feira, 23 de novembro de 2010

Reflexões sobre Comes, Bebes e Ouves...

            Quem me conhece de perto sabe que sou um glutão. Aprecio intensamente a atividade de comer e tudo o que contempla uma refeição.  Às vezes, como mais do que o necessário para me satisfazer, devo admitir. Às vezes, a quantidade que como parece ser mais do que o necessário apenas na visão de outras pessoas, mas, na verdade, é perfeitamente ideal para suprir a demanda energética dos meus 80kgs e das minhas atividades físicas diárias.
            Um gourmet, ao contrário do que muitos pensam, não é aquele que prepara comidas. Gourmet é um indivíduo, apreciador das artes culinárias, que tem um paladar apurado e que possui um bom conhecimento em gastronomia. Um gourmet pode ser um péssimo cozinheiro, por exemplo. Não é o meu caso. Não sou um gourmet e tampouco sou um péssimo cozinheiro. Aliás, eu gosto das minhas comidas e uma das atividades que mais me dá prazer é descobrir combinações de temperos e ingredientes, ao cozinhar determinado prato.
            Não tenho, como já disse, um paladar super apurado a ponto de identificar ingredientes, temperos e modos de preparo de uma comida apenas experimentando-a. Minha mãe tem esta capacidade e, além dela, muita gente famosa, como Luís Fernando Veríssimo, Jô Soares, Ed Motta e até o Galvão Bueno (pelo menos é o que ele diz), entre outros.
Apesar de não possuir tamanha habilidade gustativa, também não sou um zero à esquerda no assunto. Segundo os entendidos, a arte de apreciar uma boa comida ou uma boa bebida vem com o treino. Na prática isto é facilmente comprovado. Ao beber vinhos, por exemplo, é impossível que alguém se torne um expert no assunto de um dia para o outro. Ou de um ano para o outro. São necessárias diversas experiências até que se desenvolva uma habilidade no sentido do paladar que permita a diferenciação dos diferentes tipos de vinho – inclusive o bom do ruim. Outra bebida, embora com exigência gustativa menos sofisticada, como a cerveja, também segue à regra. Quando se começa a beber cerveja, se tem a sensação de que todas são iguais: amargas e ruins. Aos poucos, passa-se a diferenciar – e a apreciar – as cervejas mais encorpadas das comuns. Os bons bebedores de cervejas tem a capacidade de diferenciar até mesmo o gosto de duas cervejas comuns, mas de marcas diferentes. É mesmo que uma questão de treino.
Um último exemplo, e creio agora ter concordância unânime, é o sushi. Até ao final da década de 90, a comida japonesa no Brasil era algo tratado como, no mínimo exótico – estranho e nojento para os mais desbocados. Dificilmente se encontra alguém que tenha se deliciado com o peixe cru na primeira vez em que o comeu. É mais comum que a pessoa tenha “aceito” aquele estranho prato no contato inicial, e passado a apreciar, aos poucos, a partir da segunda ou terceira experiência.
Não sei como ocorreu em minha vida, mas, como eu disse, não sou um zero à esquerda em matéria de paladar – embora me coloque longe do patamar de gourmet. Diferentemente de certos colegas, amigos e amigas, familiares, enfim, consigo apreciar de forma plena um prato mais bem elaborado. E é bastante fácil identificar na nossa sociedade e cultura aqueles que não têm esta capacidade. Em geral, em uma aleatória ocasião em que se sirva uma requintada iguaria, ouve-se comentários irônicos lamentando a ausência do tradicional churrasquinho do final de semana, do trivial feijão com arroz ou de um simplório macarrão à bolonhesa, numa infeliz tentativa de desqualificar o trabalho, sobretudo artístico e gastronômico que foi desempenhado, por não conseguir compreendê-lo. Analogamente, é como pessoas (como eu) que vai a uma exposição de arte moderna e não compreende bulhufas por nunca ter desenvolvido esta sensibilidade. Não proferirei, contudo, coisas do tipo "até uma criança faria" só porque não compreendo o que está sendo expressado, aceitando minha ignorância plástico-artística. Mas muita gente por aí o faz.
Este meu interesse por boa comida poderia estar relacionado com criação familiar, pois como já disse, minha mãe é uma expert em degustação e uma excelente cozinheira (não apenas de refeições triviais, mas da elaboração de sofisticados pratos dignos de trabalhos de cheffs). Certamente fui influenciado por ela e pelo hábito do meu pai em beber um bom vinho conforme cada tipo de refeição. Entretanto, o mesmo não aconteceu com a minha irmã, desmentido esta tese. Ela não dá importância aos detalhes das comidas, gerando até mesmo atritos quando ela vai ao supermercado e, por considerá-los supérfluos, não compra os ingredientes que eu gostaria de ter em minha dispensa (nós dividimos um apartamento). Além disto, ela é amante de fast-foods, bolachas recheadas, refrigerantes, entre outras coisas que eu considero pobre em paladar. Mas que não deixo de apreciar.
É aí onde eu gostaria de chegar. Certa feita li uma das excelentes crônicas do Luís Fernando Veríssimo em que ele defendia o que defenderei aqui. Veríssimo, apesar de ser um entusiasta da boa gastronomia, defendeu veementemente o "pastel de rodoviária". Isto é, ele quis ir à contramão de muitos entendidos que, ao chegar a determinado patamar de habilidade para degustar as coisas, esnobam as comidas triviais, simples, mas tradicionais de cada cultura, quando não raro as discriminam como comidas populares, ruins e daí por diante.
Sou do time do Luís Fernando Veríssimo (aliás, ele também é torcedor do Internacional) e consigo apreciar, na mesma proporção, um Cassoulet ou um canapé de foie gras e um pastel de carne com caldo de cana. Em geral, comidas que me remetem à boas recordações de criança são extremamente simples e de especial sabor para mim. Aliás, é isto que o filme desenho-animado Ratatoulie demonstrou ao final, quando o temido gourmet finalmente provou o prato elaborado pelo ratinho protagonista. Algo extremamente simples na França, o ratatoulie (basicamente berinjela, tomate e abobrinha), mas que elaborado de tal maneira capaz de sensibilizar profundos sentimentos em quem o experimenta, especialmente pela sua elegante simplicidade.

Sinceramente, discorri sobre tudo isto porque recentemente fiz uma correlação mental entre as habilidades de interpretação intrínsecas dos seres humanos, vinculadas ao desenvolvimento de determinadas sensibilidades. Já ponderei a percepção visual de uma arte plástica – da qual sou desprovido – e também da percepção do paladar – que creio ter falado até demais, como sempre.
Faltou, portanto, escrever sobre uma das percepções mais importantes da minha vida: a percepção musical. Sou bisneto, neto e filho de excelentes músicos. Comecei a estudar teoria musical aos 7 anos e tinha tudo para me tornar um bom músico também. Na prática, isto não se confirmou. Porém, o conhecimento que eu trago das aulas de teoria musical e das aulas de "musicalização" além de ouvir música o tempo todo em casa desde muito cedo – inclusive musica clássica quase que diariamente – me gabarita a autodenominar, sem receios, um bom entendedor musical. Isto é, quando ouço uma canção, sou capaz de identificar os diferentes instrumentos e de que maneira eles estão em harmonia, a captar as variações de arranjo e as intenções do arranjador etc. Logicamente não é necessário ter uma veia musical para desenvolver tal habilidade. Como já mencionei, é tudo uma questão de habituar-se, de treinar mesmo (agora, neste caso, treinar o ouvido musical). Prova disto é que tenho amigos que nunca tocaram nenhum instrumento e que tem um ótimo entendimento para a música. Por outro lado, também conheço gente que toca razoavelmente bem um instrumento, mas que não desenvolveu direito a capacidade de ouvir.
A lógica é a mesma e o meu discurso não será diferente do que acabei de escrever para o paladar. Há uma abundância de entendidos de música ou bons músicos desmerecendo outros estilos musicais (muito mal generalizados, diga-se de passagem) abertamente na TV, nos blogs, etc. Eu mesmo sou muito questionado pelo motivo de não só ouvir, mas de gostar e apreciar determinados estilos musicais, digamos, mais populares e erroneamente discriminados como música ruim. Afinal, o que é música ruim?
Meu pai assinou a revista Vinho durante um bom tempo e certa vez me disse que aprendeu com os enólogos mais esclarecidos e sensíveis o seguinte ensinamento: "Vinho bom é aquele que é bom para você". É uma frase subjetiva e certamente não quer dizer que uma garrafa de vinho que custe mais de R$100,00 terá qualidade inferior ao de uma que custa menos de R$10,00.
Não pense, seguindo o raciocínio, que estou querendo jogar um maestro de orquestra sinfônica e uma dupla sertaneja no mesmo balaio. Evidentemente que um indivíduo que estudou música erudita durante muitos anos tem muito mais condições e capacidade de reger, interpretar e compor canções muito mais complexas e bem elaboradas. Tão elaboradas que muitas vezes não entram no entendimento da maioria das pessoas.
Uma banda popular que consegue movimentar multidões tanto em shows quanto na procura por sua música em tudo quanto e lugar (internet, festas, etc.) não deve ser taxada como ruim. Deve-se, no mínimo, observar que elementos fizeram daquele movimento artístico musical um sucesso e o que faz as pessoas procurarem ouvir aquele tipo de música, aquele tipo de mensagem, por mais simples que possa parecer aos ouvidos de quem já pode evoluir o seu entendimento musical.  
Sou tão admirador da música simples e popular de qualquer cultura quanto do pastel de rodoviária de carne e ovo feito na hora, do macarrão à bolonhesa – capaz de conquistar qualquer criança pela sua simplicidade e do mais simples e talvez mais antigo prato preparado pelo ser humano: o tão amado churrasco. 

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

contra-ataque









PARTE I - Justificativas


É claro que em época de eleição eu não iria perder a oportunidade de ressuscitar o meu blog e escrever para os fantasmas virtuais e para o Ziggy, que eu sei, vai acabar lendo este texto. (Valeu, Ziggy!)

Como falta menos de um mês para as eleições e, no panorama presidencial, parece que a coisa já está bem definida, é inevitável que a parte perdedora tente de tudo para desviar o voto do eleitor já decidido, querendo lhe colocar uma pulga atrás da orelha. Veja bem, estou falando do candidato que está perdendo, seja quem for, pois não me surpreenderia se a candidatura Dilma também partisse para o apelo, caso o jogo estivesse invertido. Política no Brasil, por mais que tenhamos evoluído na última década, ainda é assim e o vale-tudo continua.

Acontece que eu comecei a reparar em um argumento ofensivo à Dilma Rousef que é, no mínimo bizonho: o de que ela é uma terrorista, e que já matou e perseguiu gente, entre outras coisas. Debatendo com uma amiga, então, finalmente percebi que esta inferência à candidata do PT se deve ao seu passado de militância contra a Ditadura Militar, o que não diminui o absurdo da acusação. Em primeiro momento, imaginei que fosse mais uma das falácias utilizadas de maneira genérica por qualquer candidato que está perdendo nas pesquisas, todavia depois fui surpreendido por argumentos que me fizeram perceber uma coisa: não se fazia idéia do que significava a Ditadura Militar no Brasil. Uns instantes depois, sozinho, refleti sobre o assunto e cheguei à conclusão de que, provavelmente, muitas pessoas da minha idade e do meu círculo social partilham desta lacuna histórica em suas mentes, por diversos motivos.

Colocando-me no lugar de uma exceção a esta situação generalizada, atrever-me-ei a relatar uma breve passagem da história recente e extremamente importante do nosso país, que foram os "anos de chumbo". 

Apenas para justificar minha falta de modéstia em relação à não alienação ao tema: em primeiro lugar eu sou fascinado por história e, portanto, já li livros sobre o assunto e vi filmes (como por exemplo, O que é isso companheiro?). Além disso, meus pais viveram suas juventudes cada um em cidades grandes e importantes do país naquela época: Meu pai em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro e minha mãe, em São Paulo. Isto pode parecer estranho, mas faz toda a diferença. Os pais de amigos meus que sempre moraram em Florianópolis fatalmente não sentiram fortemente o que foi a ditadura militar de maneira mais explícita, vamos dizer assim. Isto é, Floripa, nas décadas de 60 e 70 era uma cidadezinha de 90 mil habitantes (do tamanho de Tubarão, hoje), além de ter importância ínfima no cenário da política nacional, à época.
Meu pai também costumava passar horas conversando comigo sobre a história política brasileira e mundial que ele mesmo presenciou, depois dos nossos jantares, quando eu tinha entre uns 14 e 17 anos, quase que diariamente (e provavelmente é daí que surgiu meu interesse em história e política).

No dia Primeiro de Abril de 1964, às 5h da manhã meu pai e seu irmão dormiam tranquilamente no apartamento alugado, nas proximidades da UFRGS, em Porto Alegre, quando foram acordados aos sustos por um barulho ensurdecedor que eles não puderam identificar do que se tratava, até irem à janela e descobrir o que era: O barulho do atrito das correntes de tanques de guerra do Exército com os paralelepípedos da avenida próxima de onde eles moravam. Caminhões, tanques e tropas marchavam naquela madrugada até então tranquila. Seria um desfile de 7 de setembro fora de época?

Infelizmente, não.
       
O que estava acontecendo era que os Generais do Exército brasileiro estavam impondo mais ou menos isto:

“A partir de agora o presidente da República, senhor João Goulart, não exerce mais poder sobre a sociedade brasileira. Nós é que mandamos e quem discordar vai preso!”

Mas por que diabos eles iriam fazer isto, você deve se perguntar? Esta resposta começa a ser entendida 19 anos antes, com o final da Segunda Guerra Mundial. O mundo passou a ter dois donos: Estados Unidos e União Soviética. O primeiro pregava que todos os países deveriam ser capitalistas; já o segundo, que eles deveriam ser socialistas. Estes dois gigantes países disputavam de tudo: os jogos olímpicos, a conquista espacial (os Soviéticos mandaram o primeiro homem ao espaço e os americanos mandaram o primeiro homem à Lua), competiam pela maior produção de bombas atômicas e também disputavam por países que ainda não haviam se decidido se eram capitalistas ou comunistas, a exemplo do Vietnã. (O lado apoiado pela União Soviética venceu, expulsou os americanos e o país é socialista até hoje.)

Na década de 50 algo muito importante para nós, brasileiros, aconteceu: Che Guevara e Fidel Castro fizeram uma revolução em Cuba e implementaram o primeiro país socialista das Américas, com o apoio dos soviéticos. Cuba, além de ser uma pequena ilha a uma hora de vôo de Miami, era considerada "o bordel dos EUA", onde os ricos americanos lá iam fumar charutos, beber rum, desfrutar das famosas prostitutas cubanas e gastar seus dólares nos cassinos que lá existiam.

Então os Estados Unidos provavelmente pensaram: "O quê? Os russos estão tomando conta dos países aqui, embaixo do nosso nariz? É o fim da picada! Isto não pode ficar assim!"

Enquanto isso, no Brasil, estávamos desfrutando da democracia e de uma época de prosperidade nunca vista antes. Getúlio Vargas e Juscelino Kubistcheck deixaram legados de desenvolvimento econômico com benfeitorias aos pobres e com justiça social. OPA! Mas isto estava se parecendo com o discurso do pessoal favorável ao socialismo da União Soviética, também conhecidos como “de esquerda”. E não é que esse pessoal passou a também fazer parte da política nacional, chegando a eleger o vice-presidente de Jânio Quadros, o João Goulart?

Curiosamente algo muito semelhante estava acontecendo, ao mesmo tempo, na Argentina, no Uruguai e principalmente no Chile, com a liderança de Salvador Allende.

Em 1961, uns malucos de nomes Luiz Carlos Prestes e sua esposa Olga Benário Prestes, juntos de seus camaradas socialistas tentaram levantar um golpe militar de esquerda contra à democracia brasileira, sem sucesso, como você deve ter assistido no filme Olga. Embora abafado, o golpe deixou o pessoal que gostava dos Estados Unidos e do Capitalismo (também conhecidos como conservadores, ou “os de direita”) com a luz amarela acesa: comunistas tentando tomar o poder?
E aconteceram outros eventos políticos conturbados de 1961 até 1964, que não vou explicar aqui para não ficar muito longo, mas o fato é que as Forças Armadas brasileiras sempre tiveram uma cultura super conservadora e, a partir do fracasso de Prestes e de sua galera esquerdista, os generais militares do Brasil ganharam um apoio de peso de alguém que já estava aborrecido (ou puto da cara) desde a façanha da dupla Fidel Castro e Che Guevara: os Estados Unidos.

O então presidente americano Lyndon Johnson teria dito: "Olha lá os comunistas livres na América do Sul! Já perdemos Cuba! Precisamos dar um basta!"

E foi assim que a CIA (a agência de inteligência americana) apoiou, não declaradamente, golpes de Estado pela América do Sul, a começar... por nós!


PARTE II – As verdades do golpe do dia da mentira


Agora que você já sabe o que levou os militares a tomarem o poder do Brasil, vou finalmente discorrer sobre o que me levou a escrever o texto: Uma tentativa de descrição simplificada e exemplificação do que foi, de fato, a ditadura militar no Brasil.

Então, a partir daquele momento em que meu pai e meu tio viram o poderio militar pelas ruas de Porto Alegre e que foi declarado, por rádio e televisão, que o Brasil estava sob controle das suas Forças Armadas, muita coisa mudou.

Vieram os Atos Institucionais, conhecidos como AI. O primeiro deles, o AI-1 suspendeu a constituição brasileira, e determinou que o presidente da república não seria mais João Goulart (que foi mandado embora do país), mas seria um escolhido pelo exército, estabelecendo as "eleições indiretas" para presidente. Ou seja, eles é quem escolhiam. O primeiro eleito foi o General Castelo Branco, que logo aplicou o AI-2, que determinou que, a partir de então, era o poder militar quem decidia o que era ou não crime contra a segurança nacional (e isto enfraqueceu o poder judiciário) e mandou acabar com todos os partidos políticos, apenas mantendo dois: o ARENA – Aliança Renovadora Nacional, pró-ditadura e que, depois de muito tempo passou a ser chamado PPB e hoje é o nosso famoso PP (dos Amin e Maluf) e o MDB – Movimento Democrático Brasileiro, de oposição aos militares e hoje conhecido como PMDB (de Luiz Henrique, Michel Temer e outros peixes grandes).

E foi o Ato Institucional mais cruel o que também ficou mais conhecido, o famoso AI-5. Este ato, que nada mais é do que uma carta à sociedade, determinou coisas como o fechamento do Congresso (traduzindo, mandou deputados e senadores para casa), enfraqueceu o Supremo Tribunal de Justiça e permitiu que o presidente mandasse prender, cassar, aposentar e exilar quem ele bem entendesse à qualquer hora que ele quisesse.

O presidente que impôs o AI-5 foi o General Costa e Silva, que logo foi afastado por problemas de saúde e então quem se aproveitou de todos os poderes que este Ato lhe proporcionou foi o ditador mais autoritário que tivemos, o General Emílio Garrastazú Médici, conhecido também como Presidente Médici. Este sujeito fechou diversos jornais Brasil a fora, impôs censura aos artistas e meios e comunicação e foi disparado o general que mais prendeu, torturou e matou gente.

A minha mãe gostava, e ainda gosta de MPB, que estava nascendo naquela geração com Chico Buarque, Caetano Veloso, Geraldo Vandré, entre outros. Mas ela teve que amargar a invalidez de Geraldo Vandré (brutalmente violentado pela tortura), o exílio do Caetano Veloso (ou seja, mandaram-no embora do país e, por isto Roberto Carlos o escreveu a música "embaixo dos caracóis de seus cabelos"; caracóis de Caetano!), mas ainda pôde apreciar a genialidade metafórica com que o Chico Buarque escrevia suas letras para passar despercebido pela censura.

Diz ela também que, em meio à galera, volta e meia aparecia algum rapaz que ninguém sabia de onde havia surgido. Geralmente era simpático e logo se entrosava com os estudantes. Depois de um tempo ele sumia e então todos se davam conta que ele, na verdade, era alguém do governo infiltrado para saber o que os estudantes estavam "tramando". Outros tipos de sumiço também se davam quando os amigos ou colegas eram mais exaltados e revoltados contra o governo opressor, o que geralmente terminava em prisão, exílio, tortura ou, não raro, morte.

Um amigão de meu pai era um desses. Certo dia resolveu pixar "abaixo à ditadura" nos muros da universidade e só não se deu mal porque alguém bem informado o avisou que ele estava sendo procurado. Subitamente o jovem se mudou para Brasília para escapar.

Em tempos de ditadura não há espaço para “manifestações pacíficas”. Ou aceita, ou leva porrada!

Na época do presidente Médici, o governo passou a escolher os governadores dos Estados, tirando dos cidadãos também este direito de escolha. Em Santa Catarina: Ivo Silveira, Colombo Salles e claro, Jorge Bornhausen. Em São Paulo, Maluf. Na Bahia, Antônio Carlos Magalhães,  o Toninho Malvadeza.
O governo também passou a determinar os prefeitos das capitais e cidades-fronteira. Não me recordo a lista dos prefeitos de Florianópolis, mas sei que o Esperidião Amin foi um deles (o que não quer dizer que tenha sido um mal prefeito, estou apenas dizendo que ele era, de fato, um político sustentado pela ditadura militar do Brasil).

O filme “O que é Isso Companheiro?” mostra com muita propriedade e realismo a façanha que um grupo de estudantes idealistas e revoltados com a situação de repressão no país empreende ao sequestrar o embaixador dos Estados Unidos no Rio de Janeiro e exigir uma recompensa em troca de sua liberdade. Sabe que recompensa era esta? Dinheiro? É claro que não, eu estou falando de outra época, onde a liberdade não tinha preço. O que eles exigiram foi o exílio de colegas seus que estavam presos. Assim, indo legalmente para outro país (se eu não me engano eles foram para o México), aquele que discordava da política dos militares no Brasil poderia recomeçar uma nova vida sem torturas e sem prisão, porém longe de sua pátria.

        (Nesse meio tempo, os exércitos militares na Argentina e Uruguai tomaram o poder nos respectivos países. Augusto Pinochet tomou o poder do Chile em 11 de Setembro de 1974, prendeu 40 mil pessoas dentro do Estádio Nacional de Santiago, matou e torturou muita gente e fez do Chile um país amigo dos Estados Unidos).

O general Médici largou então o slogan de seu governo: "Brasil, ame-o ou deixe-o". Pelo menos ele deu esta alternativa para quem não amava a ditadura e tampouco estava a fim de levar bala ou de ser torturado. Muitos intelectuais rebeldes à ditadura fizeram parte de uma lista imensa de exilados. Personalidades como: Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Fernando Gabeira, Leonel Brizola, José Dirceu, Oscar Niemeyer, Gilberto Gil, Caetano, Raul Seixas e muitos outros. 

Enquanto isso, os milicos estavam tratando de seguir a cartilha americana para o desenvolvimento: privatizações, grandes obras (financiadas com dinheiro emprestado pelo FMI), sucateamento da educação pública, investimento em estradas e abandono das ferrovias, etc. Em primeiro momento, conseguiram passar uma falsa sensação de prosperidade ao povo brasileiro, com um crescimento econômico que logo foi desmentido e resultado em desigualdade social, falência do Estado (incapacidade de pagar os juros da dívida externa), inflação, crise financeira e tudo de ruim que estourou nos anos 80, a década perdida.

Um ano antes, em 1979, entretanto, a repressão cedeu um pouco e o governo permitiu que aqueles exilados regressassem ao país sem que fossem presos.
Concomitantemente, um sujeito com problemas de dicção estava sendo preso, no ABC paulista, por liderar a maior greve sindical da história do Brasil. Passado alguns anos, já solto, Lula subiu no palco do movimento Diretas Já juntamente com FHC, Serra e Brizola para pedirem aos generais e ao presidente General João Figueiredo que concedecem ao povo brasileiro o direito de ir às urnas e escolher o presidente do país. O movimento deu certo, mas ainda não foi daquela vez que nossos pais puderam votar. Existe ainda uma longa história envolvendo o falecido Tancredo Neves, mas abreviando o papo, tudo finalmente termina nas eleições de 1989, com o glorioso Fernando Collor de Mello como o primeiro presidente civil eleito pelo povo brasileiro após o triste e obscuro período da ditadura.




Depois de ter escrito, lido e relido este texto, eu ainda tenho a impressão de que não fui enfático na descrição do horror que é viver sem liberdade de expressão e com uma repressão armada e ostensiva pelas ruas de onde se vive. É razoável que eu não tenha sido convincente porque eu mesmo não sei o que é viver em tempos como este. O que eu tentei passar foi a minha indignação, como brasileiro que sabe que um grupo violento de pessoas mandou o país para o buraco e impediu que grandes pensadores da época fizessem o país deslanchar e se desenvolver, nos oferecendo uma herança terrível, como foi o Brasil da década de 90, a época em que eu cresci e convivi com inflação, estagnação econômica, desemprego, violência e principalmente desigualdade social.

Como já disse no início, o que me motivou a desabafar isto no meu blog foi a indignação com que eu li por aí ofensas falaciosas sobre o passado de lutas da Dilma Rousef contra a ditadura militar.
Até hoje em dia, há quem diga que aqueles tempos foram os "tempos de ouro do Brasil" e eu aceito esta posição com a categoria de quem já nasceu em uma nação democrática, sabendo respeitar as diferentes opiniões. Mas não aceito quem ouse atacar o ato digno de qualquer pessoa que um dia lutou por este direito que hoje eu gozo.


Na foto: Lula, Ulysses Guimarães, não-sei-quem, Orestes Quercia, Brizola, Franco Montoro, Tancredo Neves, não-sei-quem e Fernando Henrique Cardoso. (Três deles foram eleitos presidente do Brasil um dia).

quarta-feira, 23 de junho de 2010

bla bla bla...

A autopromoção pessoal é inversamente proporcional à real competência de um indivíduo.


"Eu fui convidado a participar de blablabla"
"...porque eu tenho o contato do Fulano, que vai nos ajudar e blablabla"
"Isto aí quem disse primeiro foi eu!"


E assim por diante. 


Já escrevi sobre isto aqui no blog, mas hoje tive uma péssima experiência com um professor da ESAG, campeão em autopromoção de seu nome, o que me fez vir aqui reforçar a idéia.


Quem é BOM não precisa dizer o que fez e o que faz, basta demonstrar competência na hora oportuna.

A copa no tempo




Coisa que eu gosto de fazer em momentos de ócio mental é conjecturar a respeito da evolução tecnológica para o futuro que viverei. Muitas vezes brinco de listar os objetos que em 5, 10 ou 20 anos serão relíquias de um passado aparentemente longínquo. Carregador de celular, chaves de casa e de carro, CD, DVD, notebook de 15'... 
Ou então, em outros momentos, eu comparo o meu antigo celular de 5 anos atrás com o de hoje, para que possa tentar imaginar como será o de daqui a 5 anos. Certamente as diferenças entre o do futuro e o do presente serão ainda maiores que as entre o do presente e o do passado. Isso também vale para o computador, velocidade da internet, design dos carros... Acho isso muito louco!

Falando em velocidade da internet, tenho pensado muito nisso ultimamente. Lembro-me que em 2008 me apresentaram o justin.tv para que eu pudesse assistir os jogos do meu time, o grande Internacional, via internet, ao vivo e de graça. A conexão era uma porcaria, a qualidade péssima e tinha um atraso considerável com relação à transmissão pela televisão. De lá para cá foram dois anos e eu utilizei diversas vezes este meio para assistir aos jogos. Pude perceber uma ligeira melhora, mas creio que foi por conta da evolução da minha internet, que aqui em casa possui uma velocidade razoavelmente boa. A maioria dos links para este tipo de transmissão, entretanto, não funcionam direito aqui no Brasil. Não sei explicar, mas tem a ver com o nosso endereço de IP brasileiro, pois parece que existe um número limitado de espectadores. Ou seja, eu assisto 20 minutos e cai. Mais 10 minutos, cai novamente e assim por diante. (Existem maneiras de se melhorar isso usando um programinha ou alterando algumas configurações no navegador, mas eu não saberia esclarecer com propriedade). Quando estive no Canadá, e, portanto, contemplado por um IP canadense, pude assistir tranquilamente aos jogos do meu time sem os inconvenientes anteriormente citados, a não ser pela baixa qualidade do vídeo.

O fato é que nesta Copa do Mundo, eu não me canso de me admirar com o que o site globoesporte.com está oferecendo aos internautas brasileiros. É possível assistir aos jogos em tempo real com qualidade ótima. Claro que depende da velocidade de conexão da sua internet. Aqui na minha casa, por exemplo, com velocidade de 3MB, a qualidade da imagem fica igual à de uma televisão normal e a transmissão ocorre sem delay em relação a da TV a cabo. É impressionante! Disseram-me que isto ocorre porque a Globo está bancando os IPs brasileiros para a conexão no seu site, ou seja, que neste caso, o bom mesmo é estar no Brasil para desfrutar deste entretenimento sem cortes, sem limite de conexão, etc.

Voltando ao assunto do início, esta história toda me fez lembrar que na copa de 2006, assistir ao jogo ao vivo pela internet era coisa que nem passava-me pela cabeça. Eu levava um radinho a pilha para as aulas e assim podia acompanhar aos jogos mais importantes, sempre ouvindo apenas de um lado para que o professor não percebesse. Laptop era coisa de rico ou de quem havia viajado para o exterior e o adquirido por um bom preço. Era raro quem o possuísse. Na Copa deste ano, aquele que estiver mais interessado no futebol do que nas aulas da faculdade leva seu laptop (pois é raro quem não tenha um, nas universidades), se conecta pela rede wi-fi e é possível acompanhar o vídeo do jogo em tempo real, como já mencionei.
Agora, meus amigos, imaginem como será a Copa do Mundo de 2014, aqui no Brasil! Será possível assistir aos jogos pelo celular, de graça? (Ok, eu sei que já é possível pelo wi-fi do iPhone ou Blackberry, mas eu digo como se fosse algo banal, através da internet via celular mesmo e sem pagar por isso!). Será que teremos a televisão em 3D em casa? De que maneira assistiremos aos jogos do Brasil? Escreva o seu palpite! Em 2014 tentarei me lembrar de ler novamente este texto.


segunda-feira, 21 de junho de 2010

Mais críticas a eles...


Época de Copa do Mundo é uma maravilha. Os amantes do futebol, como eu, esperam ansiosamente a cada quatro anos a oportunidade de ver grandes jogadores, de clubes diferentes, reunidos nos seus times nacionais. Jogões de bola (uns nem tanto), os melhores jogadores do mundo, os preparativos, os comentários... É tudo muito emocionante.
Mas ainda nesse clima agradável eu não consigo deixar de me incomodar com uma coisa, aliás, um velho alvo de críticas aqui no blog: os malditos jornalistas!
Criaram-se comentaristas de futebol que, na verdade, são jornalistas e que provavelmente nunca deram um chute em uma bola na vida. Não contentes com o fato de se intitularem entendidos em algo que não são, resolveram vir a público e nos contar como eles gostariam de ver a seleção brasileira jogar.
      Aí agora resolveram pegar no pé do Dunga a qualquer custo: Se a preparação da seleção brasileira fosse a bagunça como foi na da Copa de 2006, certamente iriam chiar. Neste ano, quando possível, a comissão técnica brasileira fecha os treinos para que os espiões não vejam o que está sendo armado e, mesmo assim, os infelizes repórteres malham o pau no Dunga porque ele fechou o portão. Pra mim não faz o menor sentido!! Será que o Dunga fecha os treinos porque ele gosta ou porque isto pode ser benéfico para a seleção?
       Depois, o Brasil fez a sua estréia contra um time fraco, é verdade, mas apresentou um futebol razoável (repleto de um compreensível nervosismo comum em estréias) e venceu o jogo, o que é o mais importante. E lá vem os jornalistas criticarem o esquema da seleção, a escalação, a convocação, a roupa do Dunga, tudo! Esquecem o sufoco que foi o primeiro jogo contra a Turquia, na vitoriosa campanha de 2002 com o Felipão (outro super criticado na época). Ignoram o fato de que o time brasileiro ainda está em fase de desenvolvimento e que irá jogar cada vez melhor, com mais entrosamento, se sentindo mais a vontade.
 Eu gostaria de ter a oportunidade de relembrar estes perturbadores da comunicação que o Dunga já foi o capitão da Seleção brasileira, disputou 3 Copas do Mundo como jogador de futebol, ganhou tudo o que poderia ter ganho com os times que montou como técnico da seleção principal. Isto é, alguma coisa de futebol ele deve entender. Ele levou não só os melhores jogadores disponíveis para a África do Sul, como os mais confiáveis também, algo extremamente importante. 
Mas daí me vem um palhaço ontem na Globo me dizer que "Copa do Mundo é alegria, não tem que ser tão sério! Queremos ver o Brasil jogar bonito, pra frente! Eu quero é espetáculo!". Será que o imbecil esqueceu-se do que foi há 4 anos? Será que ele ficou satisfeito com o nosso espetáculo, ou preferiu o futebol de 1994, não tão badalado, porém vitorioso? 
Esses famigerados jornalistas, de todas as emissoras, que estão cobrindo a Copa do Mundo estão com algum problema pessoal com o técnico da seleção brasileira, só pode. Não é possível que eu veja tudo tão diferente deles. O pior é que isso passa para o povo brasileiro, amante da palpitação alheia e ignorante, e fica repetindo o discurso que eles propagam no ar. Acho que só na base da conquista do título que o povo brasileiro vai enxergar o timaço que temos representando o nosso país.

Dunga, aqui está meu apoio. Sou teu fã!

E não me canso de protestar contra a existência dos jornalistas.


Obs: Ex-jogadores de futebol comentaristas, ok. Em geral eles não são tão ruins e entendem do assunto.