terça-feira, 14 de outubro de 2008

valores mais do que milhões


Essa é boa. Estou martelando esse assunto em minha cabeça o dia inteiro, depois de ter tido uma descontraída conversa entre amigos no último domingo.

O papo percorreu os mais variados assuntos a chegou no tema “eleições”. Muitos pontos de vistas diferentes e muito respeito por eles também. Até que, infelizmente (mas inevitável), associou-se política com corrupção. Surgiram muitos devaneios: “Será que o prefeito rouba muito?” “E o presidente, consegue roubar mesmo com todo mundo o vigiando 24h por dia?” “Por que alguém tão rico se candidata a vereador?”, entre outros. Até que um dos presentes, cuja opinião era de que todos, invariavelmente, roubavam, indagou o grupo:– O cara ganha 3mil reais por mês em um cargo público e está no fim da carreira. Uma importante decisão depende dele. Chega um empresário que quer fazer algo ilegal e oferece 3 milhões pela liberação. Quem daqui não aceitaria?!


- Eu! ÓBVIO que não aceitaria. – Respondi e a opinião felizmente foi compartilhada por outros participantes do bate-papo. Não tive tempo e nem cabia naquele momento um argumento consistente para a tal opinião, por isso o farei aqui.

Acredito que existem dois tipos de pessoas diferentes que podem aceitar se corromper dessa maneira, aceitando dinheiro ilícito: O sem-vergonha e o impulsivo.

O sem-vergonha, como o nome diz, não sente o menor remorso em fazê-lo. Aliás, por ser assim, passou sua vida inteira furando filas, pegando troco a mais e não devolvendo, encontrando carteiras recheadas de dinheiro e não as devolvendo, sonegando imposto, não pagando dívidas, ou seja, levando vantagem sem o menor constrangimento. Uma oportunidade dessas de enriquecer da noite para o dia é, para ele, como acertar na loteria e não importa as conseqüências que isto possa acarretar, pois para ele, o mundo é dos espertos e não dos trouxas.

Já o impulsivo, diferente do sem-vergonha, sempre soube viver civilizadamente inserido em sua sociedade. Cumpriu com seus compromissos, considera-se honesto e transmite seus princípios aos seus filhos, esposa, pais, colegas e demais pessoas que nele confiam. Evidente que uma situação dessas não é fácil para ninguém, é muito dinheiro! O impulsivo que tem lá seus valores de dignidade e honestidade não consegue pensar que depois ele certamente se arrependerá do crime que cometeu. E eu garanto que se arrepende.

Uma quantia dessas muda a vida do sujeito. Ele não pode colocar a fortuna na sua conta bancária, pois teria que declará-la. Não pode aparecer com a Range Rover dos sonhos, pois certamente alguém desconfiará. Se fizer alguma falcatrua para lavar o dinheiro, ele tá ferrado: Nunca mais dormirá tranqüilo por temer ser algemado na frente dos filhos e esposa, que nele confiaram suas vidas, e exposto em mídia nacional em alguma operação “tamanduá” da Polícia Federal (que, aliás, nunca prendeu tanto safado neste país). O pânico nem está por conta da prisão, mas sim porque o indivíduo feriu seus próprios valores e não foi coerente e verdadeiro com as pessoas a quem ama.

Percebeu o arrependimento? Sim, ele é milionário, mas não pode comprar o que deseja pelo medo de ser descoberto e ainda convive com um martelo que insiste em bater em sua cabeça: consciência pesada. Consciência limpa e leve não se compra e nem se vende, não interessa o valor, é algo construído ao longo da vida inteira.

Nenhum comentário: