quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mr. Cardoso

Gosto de política. Quem me conhece sabe, e quem não me conhece, mas que já leu algo aqui no blog deve ter percebido isso também. Acontece que eu possuo lá minhas crenças políticas e não seria agradável para você ficar lendo aqui textos tendenciosos, assim como eu não gosto de quando minha professora de Economia Brasileira incrementa pitacos políticos e comentários desnecessários na sua oratória – desvirtua o assunto. 

Hoje conversei com umas pessoas na minha faculdade (de administração) e, pela primeira vez naquele lugar encontrei pessoas reconhecendo os ótimos trabalhos realizados pelo atual governo Federal, o que me motivou a escrever sobre isso. Por isso decidi que, antes de elogiar este governo – ou criticá-lo – o farei com o anterior, o governo Fernando Henrique Cardoso. Desta maneira, acredito que passarei credibilidade ao leitor, assim como este também pode dar-se conta de que é possível elogiar e reconhecer os aspectos positivos daqueles que não conquistam o nosso voto.

A figura do nosso ex-presidente FHC já entrou para a história por diversos motivos. Sua trajetória revolucionária teve início antes mesmo de seu nascimento, uma vez que seu pai foi General do exército na década de 20, atuante no movimento chamado Tenentismo. (Seu avô e bisavô também eram generais).

Sociólogo de formação, foi estudioso e admirador do Socialismo, você sabia? Sim, FHC até publicou um livro a respeito e foi exilado político durante a Ditadura Militar no Brasil, assim como muitos que hoje pertencem a partidos políticos considerados de esquerda. 

Bom, passado o tempo, após liderar o MDB - Movimento Democrático Brasileiro - Fernando Henrique Cardoso teve um grande papel de salvador da pátria em 1994, quando foi Ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco. Naquela época, a inflação era o pior pesadelo que um brasileiro poderia ter. Nossos pais perdiam a noção do quanto os seus salários podiam comprar, pois os preços aumentavam muito, e muito rápido. FHC e sua equipe tiveram a brilhante idéia de criar um indexador da economia chamado URV, (lembra?), um mecanismo econômico que teve uma enorme utilidade para o psicológico do brasileiro. As coisas se acalmaram, e os consumidores, mesmo comprando em Cruzeiros Reais, sabiam quanto o seu dinheiro valia em URVs.

Depois disso, nas eleições de 1994 não deu outra: Fernandão na cabeça. E assim iniciou-se uma nova Era no Brasil, livre de inflação. Seu governo contemplou diversas falhas, muitos erros tanto econômicos, quanto sociais (desemprego recorde) e principalmente políticos (ao aliar-se, por exemplo, com Antônio Carlos Magalhães, o ACM). Cabe a este texto, porém, o papel de apenas citar o que deu certo. Ok, não tínhamos mais inflação.

No segundo mandato as coisas melhoraram, a economia começou a desatrelar-se, ainda que sufocada pela dívida externa impagável (que fez com que o Brasil quebrasse em 1999 e muita gente também não sabe disso). Vieram as privatizações (algumas delas muito bem sucedidas e necessárias a meu ver, como as de telefonia), e o país aparentemente transitou para uma fase de amadurecimento político, tanto da situação, quanto da oposição. 

Muitas leis de extrema importância foram criadas durante o governo FHC, como o novo Código de Trânsito, Lei do Petróleo (findando o monopólio Petrobrás), e aquela que, em minha opinião, é a mais importante delas, a que garante o nosso crescimento sustentável seja quem for o próximo governante: A Lei de Responsabilidade Fiscal, que impede que o prefeito ou governador empurre dívidas para o mandato do sucessor, não é mais permitido gastar além do que se arrecada, eliminando jogos políticos infames.

As pesadas intervenções do Banco Central a partir de 1998 nos bancos comerciais pelo Brasil a fora foram de vital importância para a estruturação do mercado de capitais brasileiro atual, que pode até, de certa forma, blindar-se da crise financeira internacional.

Também foi criado, no segundo mandato de Fernando Henrique, um importante programa social chamado Bolsa Escola, adaptado posteriormente pelo atual governo. (E alguém insinua que o FHC estava interessado apenas em votos com esse tipo de programa?)

Ainda, as más diretrizes econômicas adotadas no primeiro mandato foram revistas e o país se encaminhou para um novo momento de possibilidade de desenvolvimento. Ou seja, na minha visão, o governo Fernando Henrique Cardoso preparou o terreno para o crescimento e desenvolvimento que contemplamos nos dias de hoje: Transitou da instabilidade total a um cenário com boas perspectivas de mudanças.

Não creio que ele seria, por exemplo, um bom nome para o momento em que o Brasil vive atualmente, por diversas razões que deixarei de mencionar por hoje.

Fernando Henrique entrou para a história ao ser o primeiro presidente reeleito no Brasil.

Em resumo é isto e não é difícil para mim, considerar e reconhecer tantos pontos positivos de um governo cuja ideologia política não me agrada. Desprezá-los é burrice e falta de humildade. 

Além disso, creio que a polarização direita-esquerda, patrões-empregados, capitalistas-comunistas, tentem a sumir do meio político (e fiquem apenas no meio filosófico). Vivemos em um mundo onde os próprios interesses pessoais afetam os interesses do próximo em uma dependência mútua e a busca pela convergência desses interesses me parecem a melhor alternativa.

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