quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

atirando vacas do precipício

Quem me conhece e sabe que gosto de política pode até se confundir ao pensar que eu gosto de politicagem. Veja bem, a política a qual eu acompanho e escrevo a respeito são básica e principalmente os interesses do Brasil e da América Latina, assim como o que está acontecendo no mundo. Sou um entusiasta das atualidades e, por esta razão, busco notícias sobre política interna e internacional assim como me agrada assistir aos debates sobre política em geral com os entendidos da Globo News – muito embora na maioria das vezes eu não concorde com o que dizem.
Já vou avisando, contudo, que não sou politiqueiro. Não gosto de fazer média com ninguém, nunca forcei uma amizade por interesse e o principal: detesto discursos!!! Sobretudo quando eles aparecem em ocasiões em que se tornam inconvenientes, como em festividades e encontros informais. Discurso de formatura é algo que geralmente me deixa extremamente aborrecido.
(Aliás, o motivo de eu escrever estes textos aleatórios no blog é justamente o fato de que eu me consideraria um chato discursando sobre estas coisas em ambientes impróprios).
Discurso de orador e paraninfo de turma geralmente é uma tentativa de formalização do que é informal: a convivência entre os colegas. Os discursos que fogem desta regra, contudo, se possuírem um bom conteúdo, até podem me chamar a atenção.

Semana passada eu colei grau em Administração de Empresas com um semestre de atraso – por motivos que não convém aqui explicitar. Os discursos até que foram razoáveis (e não é porque foi na minha formatura que estou dizendo isto). O discurso do paraninfo da minha turma eu achei ruim e dentro da mesmice. A paraninfa da turma de Administração Pública pronunciou uma interessante mensagem, sobre o senso de propriedade pública e privada dos brasileiros, mas pecou por se alongar em demasia. (Ainda escreverei aqui no blog reflexões sobre este tema). 
Finalmente o discurso do professor Mário Cesar, o Marinho – atualmente diretor geral da ESAG – foi o que mais me agradou. Ele preferiu poupar os ouvintes de rasgações de seda e apenas proferiu uma simples parábola, a seguir reproduzida.

Certa vez perambulavam pela zona rural de alguma região remota do mundo um filósofo e seu discípulo. Eis que, de repente, encontram um rancho onde vivia uma família, à beira de um precipício. O local era miserável e distante de tudo. A gente, muito pobre.
Pediram algumas horas de descanso, alguma comida e água, devidamente atendidos pela família. E ao patriarca da família o sábio pergunta:
– Este lugar é muito pobre e isolado do mundo. Como fazem para sobreviver?
– O senhor vê aquela vaca? Dela tiramos todo o nosso sustento – respondeu o homem. Ela nos dá leite, que bebemos e também transformamos em queijo e coalhada. Quando sobra, vamos à cidade e trocamos o leite e o queijo por outros alimentos. É assim que vivemos.
Os dois viajantes agradeceram a hospitalidade e partiram. Ao completar a primeira curva do trajeto o sábio solicita ao seu discípulo:
– Busque aquela vaca e atire-a do precipício.
– Mas como? Não podemos ser tão ingratos. A vaca é a tudo o que aquela família tem. Sem ela, não sobreviverão.
– Vá lá e faça isto, meu nobre.

Atônito, lá foi o fiel discípulo fazer o que propôs o seu mestre. Desfez-se da vaca sem que a família percebesse e voltou para sua cidade.
Anos depois, ainda intrigado com aquela história, o jovem aluno resolveu tirar suas próprias conclusões realizando uma segunda visita.

Ao chegar naquele ermo local o rapaz, que imaginava encontrar um local abandonado pela família que houvera se retirado, chocou-se ao vislumbrar uma bem sucedida fazenda, com imensas áreas de cultivo e rebanhos de animais circundando a reformada, outrora precária, casa.
Certo de que este cenário só poderia pertencer a outra família, o discípulo surpreendeu-se ao encontrar o mesmo homem de anos atrás e então o questiona:
– Mas o que aconteceu? Eu estive aqui com o meu mestre alguns anos atrás e este lugar era miserável! Como mudaram de vida em tão pouco tempo?
O homem olhou para o discípulo, sorriu e respondeu:
Nós tínhamos uma vaquinha, de onde tirávamos nosso sustento. Era tudo o que possuíamos. Mas, um dia, ela caiu no precipício e morreu. Para sobreviver, começamos a plantar as sementes dos poucos vegetais que tínhamos a disposição. Em pouco tempo pude vender o excedente e comprar outras sementes. Também passei a utilizar a lenha da propriedade e a replantar as arvores. Troquei esta riqueza pelos primeiros animais e assim fomos fazendo outras coisas, desenvolvendo habilidades que nem sabíamos que tínhamos e nos aproveitando do solo rico que tampouco conhecíamos o potencial. E foi assim, buscando novas soluções, que hoje estamos muito melhor que antes.

É claro que a simplicidade da parábola dispensaria qualquer comentário sobre a moral da história. Como é de praxe, porém, as palavras de conclusão do professor Marinho foram mais ou menos: "Saiam da zona de conforto de onde vocês estão, por mais fácil que seja permanecer nela. Assim descobrirão qualidades em vocês mesmos e passarão a utilizar todo o potencial que possuem".

Nenhum comentário: