terça-feira, 24 de março de 2009

trânsito interrompido

Odeio motos, motocicletas, motociclistas, motoqueiros, motoboys e afins. Você também? Eu aposto que sim. Em dias de trânsito intenso, por exemplo, quando queremos trocar de faixa, devemos não apenas tomar cuidado com outro carro, mas também com a moto que irá passar entre os dois corredores de carro, para não matar um motociclista apressado.

Sei que também não gostas das motos e que deves andar de carro, assim como eu, acertei?

Desde 1990, segundo o Ministério da Saúde, os acidentes envolvendo motos no Brasil teve um crescimento assustador de mais de 2.000%, ou seja, temos 20vezes mais acidentes por ano do que no início da década passada. Em média, morre um motociclista por dia em São Paulo. É evidente que além de incomodar eu e você no trânsito, os motoqueiros também incomodam o sistema de saúde, que tem que alocar esforços e recursos para este tipo de atendimento.

Está claro também que os motoristas de motocicletas não estão 20 vezes mais imprudentes do que antes. O número dá a entender é algo que o mercado automotivo pode comprovar: o forte aumento nas vendas deste tipo de veículo e a entrada de diversas marcas estrangeiras.

E por que as pessoas compram motos?

Isto já não é tão claro assim. O que eu sugiro é que a moto e o carro significam, neste país, liberdade. Não temos trens, não temos ônibus confiáveis e confortáveis. Temos carros caros e motos baratas. Quem pode como eu e você, caro leitor, compra carro. Quem não pode, tem de arriscar suas vidas sobre duas rodas.

O tema sistemas de transportes é uma das minhas paixões, tanto que quero e vou trabalhar nesta área. Poderia compartilhar aqui minhas idéias e teorias sobre a maneira errada de como nos transportamos, mas o pouparei disso.

Apenas me limitei neste texto a lembrá-lo de que, mesmo que muitas vezes a gente sinta raiva de um motociclista, a culpa não é dele – que está tentando chegar a casa mais rapidamente que um ônibus lotado, ou levando encomenda a um cliente de seu patrão que utiliza o serviço de motoboy por ser mais barato.

Para aqueles que acham que o problema não tem solução  (pois ninguém quer abrir a mão de sua liberdade por um transporte coletivo) olhem para a Europa, Japão e Canadá (e não para os burros dos americanos estadunidenses).

Bom, tenho muitas idéia e opiniões sobre o transporte urbano das grandes cidades, que um dia quem sabe eu exponha por aqui, mas já vou afirmando que estamos errados e completamente ultrapassados.

Eu consigo ver características gritantes de subdesenvolvimento em um trânsito congestionado e, com a nossa tecnologia disponível, tudo poderia ser diferente.

2 comentários:

Eduardo K disse...

Diogo,
A questão do transporte de Florianópolis e de todas cidades de médio a grande porte da latino américa e dos Estados Unidos da América é que este é baseado quase que exclusivamente nos derivados do petróleo - gasolina e óleo diesel para propulsão e piche e asfalto para a pavimentação. Irei ater-me aos núcleos urbanos, pincelando apenas que a logística de trânsito de insumos e produtos industriais entre cidades e portos é totalmente falha.
Sobre estes centros não encontraremos soluções enquanto não estiverem separadas fisicamente as malhas dos transportes coletivos e individuais. De quase nada nos adiantaria termos bilhetes custando menos de dois reais e uma oferta muito maior de linhas e horários se nos horários de pico estes coletivos ficarem presos no tráfego.
O movimento pendular que a capital catarinense enfrenta é também um dos grandes causadores desta moléstia. A maioria dos serviços está concentrada na região central da cidade, o que faz com que diariamente força de trabalho e clientela tenha que deslocar-se do seu domicílio para a mesma destinação. Vale lembrar que grande parte desta mão de obra encontra-se no cinturão metropolitano periférico de Florianópolis. Para piorar, o único acesso terrestre para a região insular se dá pelas duas pontes, caracterizando ainda mais o gargalo em que ali se encontra.
Tive conhecimento através de um caderno especial da edição de aniversário da cidade (23 de março) do DC que confabulava sobre os próximos 50 anos da ilha de um projeto da terceira ponte, passando por cima e exatamente no meio das duas já existentes, o que não seria nem um pouco eficaz com o problema do trânsito. A cidade e seus movimentos urbanos são reflexo das atividades que ali se encontram. Estes movimentos é que deveriam sofrer uma reflexão.
A curto prazo a prefeitura começou na última semana testes com faixas exclusivas para os coletivos e fala-se muito na reativação da ponte pênsil para a passagem do trem, o que serviriam apenas para a região do Estreito-Balneário. É isso que dá cargos técnicos se transformarem em cargos políticos.
Depois de dissolvidas estas enfermidades urbanas seria preciso ainda uma educação -institucional, tarifária, entre outras maneiras - da população no intuito de explicitar as vantagens do uso do transporte coletivo. Uma verdadeira mudança cultural. Só pra exemplificar, em Londres os carros particulares ao serem localizados na região central da cidade - toda monitorada por video - tem de pagar uma taxa diária pela utilização daquelas vias, como um pedágio.
Por hora é isso, vamos discutir essas idéias aí.

Abraços magrão.

DiogoBertussi disse...

Grande comentário, concordo com tudo o que foi comentado.
Acrescento que este movimento pendular que contemplamos aqui na nossa Grande Florianópolis também é observada pelo país em todos os grandes centros urbanos: uma imbecilidade, por exemplo que todas as aulas da UFSC comecem e terminem no mesmo horário que todo o comércio da região em torno e tambem com o horário dos milhares de trabalhadores da Eletrosul, por exemplo. Se somar-mos à nossa geografia e histórica falta de planejamento urbano, o resultado é o que observamos diariamente: trânsito, pessoas paradas enquanto poderiam estar produzindo ou passando tempo com sua família, poluição, stress, etc.
Sou grande adepto da flexibilização geral de horários e calendário de todas as atividades nas cidades, acabando com o marasmo de domingo e horários de pico. Acho ainda que o calendário universitário e escolar deveria ser totalmente repensado, acabando com a paralização prejudicial de três meses e um cansativo ano letivo com uma pequena pausa no meio.
Enfim, isso tudo passa por debates gigantescos, leis a serem criadas e aprovadas... Não é fácil.
Por hora, cabe a mim estudar o que eu amo que são os Sistemas de Transportes e garantir a ida e a vinda das pessoas de forma confortável, barata, segura e sustentável.